Senhor Ministro,
CARTA ABERTA AO SENHOR MINISTRO DOS TRANSPORTES RICARDO DANIEL SANDÃO QUEIRÓS DE VIEGAS ABREU
Queira aceitar as minhas cordiais saudações.
Como cidadão e passageiro frequente da TAAG, tomo a liberdade de trazer nesta carta aberta algumas preocupações que precisam do alto obséquio da vossa prestimosa atenção. Tenho quase certeza que os assuntos que vos proponho são do vosso conhecimento mas isso não obsta a que o meu propósito siga avante.
Assisti há dias, em sede da discussão do OGE na Assembleia Nacional, a uma “interpelação” levantada pela senhora Deputada Berta Marciano, da bancada do MPLA, sobre os vários constrangimentos que afligem os passageiros da rota de Cabinda, desde as dificuldades nas reservas e aquisição de bilhetes, os incumprimentos dos horários, até aos cancelamentos dos voos que levam muitos passageiros a pernoitar ao relento no aeroporto, inter alia. A resposta do senhor Ministro foi no sentido de melhorias em curso no sentido de conferir mais conforto aos passageiros dessa rota. Neste sentido, estaria em revisão o decreto presidencial no 325- A/17, de 2 de Dezembro, que regula a atribuição do subsídio ao preço da tarifa aérea na rota de Cabinda, exclusivamente os serviços da classe económica.
Aqui é preciso replicar ao senhor Ministro que a tarifa oficial actual, com excepção da classe executiva, é exequível e, portanto, não carece de revisão nenhuma. O grande busílis está nos negócios das agências oficiosas e o tráfico de bilhetes nos recintos aeroportuários a preços exorbitantes. Se o bilhete na loja da TAAG está 19.000.00 AOA, nas agências pode chegar a 50.000.00 AOA. Mas as lojas da TAAG nunca têm disponibilidade de reservas a curto prazo. No mínimo é preciso fazer reservas com um mês de antecedência. Eu próprio, em Outubro passado, pretendia uma reserva Lda/Cda para o dia 24 de Dezembro, mas só havia disponibilidade para o dia 28/12. Resultado: tenho o natal comprometido fora da família. Que remédio? Não se pode fazer uma viagem urgente sem recorrer às agências. É isto que é preciso atacar com urgência, pois, o decreto presidencial está a ser violado sistematicamente pela prática de tarifas paralelas e ilegais. Resolva já esse assunto, senhor Ministro! Os passageiros da rota Cabinda agradecem mui penhoradamente.
Senhor Ministro,
Há um outro problema que é de transcendental importância. Trata-se da segurança operacional (safety) dos aparelhos da TAAG. De um tempo a esta parte temos assistido a várias ocorrências de avarias nos aviões da companhia quer em terra, quer no ar. Há aviões que na hora da partida não puderam fazer-se à pista por avarias, seguindo-se os cancelamentos; há aviões ainda que detectaram avarias em pleno voo, como o caso do aparelho BOEING D2-TBG que recentemente teve um problema de despressurização na rota Cape Town. Acontece que uma boa parte das máscaras a bordo não caíram, provocando o mal-estar dos passageiros e o perigo das suas vidas. O avião aterrou depois em Windhoek onde, após o desembarque de todos os passageiros, as autoridades namibianas identificaram a tripulação e fizeram as inspecções segundo as regras da aviação. Em consequência das anomalias verificadas, a tripulação foi liberada e regressou para Luanda, mas o avião ficou retido. Não disponho de momento de informações se já foi liberado ou não.
Este incidente é apenas ilustrativo em relação aos problemas de manutenção dos aviões da TAAG. Não se trata de um episódio esporádico, mas há situações graves que raiam a negligência em termos de segurança dos nossos voos. É nesta perspectiva que enquadro a denúncia feita ultimamente nas redes sociais em que um comandante de bordo reclamava ter verificado falta de óleo no motor exactamente antes da partida, uma constatação oportuna que afastou aquele voo do risco de acidentar. Há tempos um avião da TAAG teve uma situação de emergência severa em Ondjiva e foi provocada exactamente por problemas de óleo, causando a paralisação do motor em pleno voo. Graças às habilidades e competências técnicas da tripulação não aconteceu o pior. Mas constou-me que houve danos do motor, acarretando custos avultados para a empresa.
Entretanto, li hoje uma informação sobre a reacção da TAAG. Simplesmente desconcertante! A administração da TAAG parece-me mais preocupada em punir “exemplarmente” o comandante que supostamente terá feito a respectiva denúncia. Valha-me Deus! A única preocupação da administração da TAAG é o facto de esta informação ter chegado a público, o que, no seu entender, é prejudicial à imagem da empresa, além de gerar “alarme desnecessário”. Mas esta gente tem mesmo o juízo no lugar? Se estão preocupados com a imagem da empresa, então o caminho é a eficiência e não a negligência. Como se pode considerar “alarme desnecessário” a atitude responsável de um comandante que evitou que o pior acontecesse? Provavelmente não terá sido uma ocorrência isolada. Os comandantes sabem o que se passa dentro da companhia. Como tudo tem de ficar fechado a sete chaves, claro que para quem tem vidas humanas em suas mãos, as ocorrências frequentes podem levar a uma exasperação, ultrapassando os tabus internos. Aliás, depois da denúncia, a administração já diz que vai fazer uma “investigação interna para apurar os factos relacionados com o caso.” Só agem/reagem quando as denúncias são públicas. Se o comandante é o patinho feio da estória, então para quê investigar o caso? No mínimo, deviam ignorá-lo!
Senhor Ministro,
Por vezes tenho a impressão que, como mais alto responsável do pelouro, não tem o domínio da situação da TAAG. Caso eu esteja enganado, o que significa que o senhor tem o competente conhecimento do que se passa, então a questão que não se cala é: por que persistem estas situações? Ou o senhor pode mas não quer fazer da TAAG um exemplo de excelência e de eficiência ou então o senhor quer, mas não pode. Em ambos os casos estaremos diante de uma incúria inusitada ou incompetência não assumida. Faz sentido, ter um conselho de administração a auferir salários astronómicos e mordomias principescas sem resultados de excelência na empresa? A TAAG precisa hoje de uma terapia de choque para a sua modernização. É nisto que a administração deve concentrar os seus esforços e não em perseguir os pilotos que fazem denúncias. Ponha ordem na TAAG, senhor Ministro!
Aproveito, pois, o ensejo, para manifestar a minha solidariedade ao comandante em causa e rogar vossos competentes ofícios em isentar o mesmo de quaisquer acções sancionatórias.
Luanda, 16 de Dezembro de 2024.
De V.a Exa Atentamente Raul Tati