O líder abriu-lhes o apetite, adoçou-lhe os beiços e foram defraudados na sede ao pote. Os kotas ficaram, não arredaram pé e não querem largar, por enquanto, os seus lugares. Não há uma ideia de rejuvenescimento como tal, há, sim, uma estratégia de manutenção de poder que passa, também, pelo controlo total e pleno do Bureau Político.
ARMINDO LAUREANO
Os congressos do MPLA têm sempre vencidos e vencedores. Neste VIII Congresso Extraordinário, Luísa Damião acabou afastada do cargo de vice-presidente e foi a grande derrotada do conclave. O partido maioritário sabe ser implacável na hora em que tem de provar que é uma “máquina de triturar” políticos.
O MPLA é um partido que não se controla nem se deixa controlar. Tem uma estrutura complexa que “tritura” e “engole” os seus líderes. Está nos seus genes e faz parte da sua história. Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Hugo Azancoth de Menezes e Matias Miguéis são os fundadores desse partido, mas, em determinado momento, foram afastados e hostilizados pelas estruturas e lideranças desta organização política.
José Eduardo dos Santos foi o líder que esteve mais tempo à frente do MPLA (1979-2018), ou seja, 39 anos, e acabou também trucidado pelo seu próprio partido. “Pela primeira vez, uma proposta de José Eduardo dos Santos para a realização de um congresso não colheu a aprovação do Comité Central, que remeteu a decisão para uma reunião de reflexão”, assim escrevia o Jornal de Angola na sua edição de 17 de Março de 2018, numa matéria com o título “Comité Central rejeita proposta do líder”, após a V Sessão Ordinária decorrida no dia anterior.
Foi o início do seu fim político e que viria a ser consumado alguns meses depois, isto em Setembro do mesmo ano, no VI Congresso Extraordinário, que ditou o fim da bicefalia e o afastamento de José Eduardo dos Santos da liderança do MPLA.
João Lourenço também foi vítima desta máquina “trituradora” do partido, no famoso Congresso de Dezembro de 2003, quando foi afastado do cargo de secretário-geral e fez uma longa travessia no deserto, tudo por, na altura, ter alegadamente cobiçado o cargo de presidente da agremiação política. Basta recuar mais no tempo para recordarmos os casos de outros secretários-gerais como Lopo de Nascimento e Marcolino Moco, que também foram literalmente “triturados” pela máquina.
Esta máquina do MPLA deixa aos líderes uma sensação aparente de domínio ou controlo do poder, mas, quanto menos eles esperam, acabam percebendo que estão a ser controlados. Hoje foi Luísa Damião, e amanhã serão outros. Há mesmo quem tenha sido poupado agora, mas que esteja já a ser preparado para ser “triturado” em 2026. João Lourenço sabe bem do que essa máquina é capaz, sabe que está rodeado de lealdades convenientes que, com ele, ainda permanecem por causa do poder que ainda exerce.
É uma luta do poder pelo poder. João Lourenço sabe que eles contestam a sua liderança e criticam a sua governação. Eles calam-se, porém não o consentem. São como hienas que agem em grupo e que aguardam que o leão perca a sua força e majestade.
É uma máquina que tanto tem de misteriosa como de impiedosa. Ela cria aos líderes e dirigentes uma sensação ilusória de poder, domínio ou controlo. Passa uma ideia de “apoio incondicional” ao líder, quando, na realidade, tudo faz para o condicionar, para o limitar e, algumas vezes, o bloquear. É perigosa esta narrativa do poder pelo poder, de intrigas, de guerras e perseguições. Só se é respeitado, estimado e exaltado quando se tem poder. Também se vive com o medo permanente de ser “triturado” pela máquina caso se perca o poder.
O problema é que a máquina funciona na lógica de “triturar” quem tem poder. Foi assim no passado, é assim no presente e será assim no futuro.
“O novo presidente terá de manter a coesão interna e mobilizar o povo” Disse José Eduardo Dos Santos em Setembro de 2018 naquele que foi o seu último discurso como presidente do MPLA no seu VI Congresso Extraordinário.
Manter a coesão interna e mobilizar o povo foi algo que José Eduardo Dos Santos há muito havia deixado de fazer, actualmente este é o grande desafio do seu sucessor, João Lourenço, aqui reside a grande dificuldade, manter a coesão interna do MPLA e mobilizar os cidadãos para as grandes causas da nação, é algo que cada vez mais João Lourenço tem dificuldade de fazer,, um desafio que deverá estar na agenda permanente do seu sucessor.
Nos últimos seis anos, o MPLA realizou três Congressos Extraordinários, uma média de um Congresso a cada dois anos e cada um deles tem a sua imagem e a sua marca, o Congresso Extraordinário de Setembro de 2018 foi o do afastamento de José Eduardo Dos Santos da liderança do MPLA e do fim da bicefalia, o Congresso a seguir ,de Junho de 2019, foi para o alargamento do Comité central do MPLA dentro da estratégia de alargar para melhor reinar.
Este último, de Dezembro de 2024, foi o do regresso da bicefalia e do controlo do Bureau Político.
Como já disse, tudo dentro de uma estratégia de controlo e manutenção de poder.
O medo e o instinto de sobrevivência leva as pessoas a agir, estar no poder e ter poder é um elemento essencial para garantir a integridade política, muitas vezes até física no nosso contexto, eles sabem que não estando no poder e estando sem poder estão vulneráveis e fragilizados, sendo que a pior preocupação nem sempre é o dia de hoje, mas sim o dia de amanhã.
João Lourenço conhece bem a máquina, já foi vitima dela e sabe bem do que ela é capaz, a máquina que alimenta egos, que promete apoio incondicional, que dá protagonismo e poder, é a mesma máquina que a tudo engole e a todos tritura.
O MPLA é uma verdadeira máquina de triturar políticos.
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