O professorde Relações Internacionais Cesário Zalata afirmou que “com a chegada de Donald Trump ao poder, abrese, novamente, um quadro de incertezas na intensidade da cooperação entre os Estados Unidos e Angola”.

Quando questionado sobre o que pode mudar nas relações entre os dois países, o académico disse que “as relações entre os Estados Unidos e Angola vão estagnar”.

No seu entender, “o actual cenário de proximidade e de intensidade nas relações entre os Estados Unidos e Angola vai certamente baixar, infelizmente!”

Actualmente, sublinhou, a intensidade das relações entre os dois Estados é um processo que resulta do interesse recíproco, marcado, principalmente, com a visita oficial do Presidente João Lourenço aos Estados Unidos, no dia 30 de Novembro de 2023, onde foi recebido na famosa Sala Oval da Casa Branca, por Joe Biden.

Consequentemente, prosseguiu, o Presidente João Lourenço convidou Joe Biden para visitar Angola. “O convite foi prontamente aceite para Biden visitar Angola este ano, cujo acontecimento ainda aguardamos com expectativa”.

Zalata lembrou que o Presidente João Lourenço esteve, igualmente, presente no Fórum Económico-empresarial Estados Unidos-áfrica, realizado nos Estados Unidos, e, por força disso, Angola foi escolhida para acolher o próximo Fórum EconómicoEmpresarial, em 2025, para além, naturalmente, do interesse estratégico dos Estados Unidos no Corredor do Lobito.

“Os factos falam por si e o que constatámos é que, durante a Administração Biden, as relações entre os Estados Unidos e Angola atingiram um nível de excelência”, notou Zalata, lembrando que, “historicamente, as relações entre os Estados Unidos da América e Angola foram estabelecidas com a Administração de Bill Clinton, do partido Democrata, em Maio de 1993”.

Líderes africanos apreensivos

Cesário Zalata considera que “a eleição de Donald Trump como 47.º Presidente dos Estados Unidos da América é um facto que está a deixar os líderes africanos apreensivos, tendo em conta as mudanças que vão, seguramente, ocorrer na política externa norte-americana”. Donald Trump, disse, é indiscutivelmente um adepto ferrenho da escola isolacionista.

O docente explicou que “o isolacionismo é uma doutrina da política externa que defende o isolamento de um Estado no âmbito político, militar, cultural e diplomático no sistema internacional, a fim de assegurar e promover o interesse nacional”.

Ao longo da história das Relações Internacionais, adiantou, vários Estados já aplicaram políticas isolacionistas em diferentes momentos, como foi o caso dos Estados Unidos da América, no século XIX, por influência da Doutrina Monroe, idealizada pelo então Presidente James Monroe.

O também analista de Política Internacional lembrou, ainda, que “quando foi eleito 45.º Presidente dos Estados Unidos (2016-2020), as relações com África foram de uma autêntica estagnação e com insultos à mistura.

No referido mandato, lembrou, não houve a realização da tradicional da cimeira Estados Unidos-áfrica, nem encontros oficiais entre Trump e líderes africanos. “Ou seja, não houve qualquer agenda clara da Administração Trump para África”, enfatizou.

Zalata considerou que “a personalidade narcisista, extrovertida, colérica de Trump levou-o a destratar os africanos. Por isso, acrescentou, “acredito que, neste mandato da Administração Trump, as relações Estados UnidosÁfrica terão implicações absolutamente negativas, uma vez que o lema de Trump é “Make America Great Again” ou “American First”.

Impacto no mundo

Cesário Zalata disse que “existem elementos bastantes para acreditar que, internacionalmente, a Administração Trump não estará engajada na busca de soluções multilaterais para os problemas que afectam a estabilidade da ordem internacional”.

Segundo o analista, “neste momento, o mundo está afectado por duas guerras, na Ucrânia e no Médio Oriente, sem fim à vista, e Trump prometeu que caso fosse eleito, acabaria com a guerra da Ucrânia em 24 horas”.

“Para além destas duas guerras mediáticas”, disse Zalata, “temos outras guerras esquecidas, principalmente em África. Temos, igualmente, a nível internacional, o problema das alterações climáticas, segurança alimentar, terrorismo, crise migratória, etc. Assuntos cuja resolução deve merecer o engajamento de toda a comunidade internacional, em especial dos Estados Unidos da América, na qualidade de Estado Hegemónico do sistema internacional. Mas, infelizmente, o isolacionismo de Trump vai prej udicar a c o munidade internacional”, concluiu.

Cesário Zalata, professor de Relações Internacionais.

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