Isabel Correia, mãe do activista angolano Osvaldo Caolo, faz duras críticas às autoridades angolanas por detenção arbitrária contra o seu filho. Em entrevista a O Decreto, Isabel Correia mulher de 69 anos denunciou restrições abusivas quando visita Caholo e diz que o seu filho nunca cometeu crime e apela directamente ao Presidente João Lourenço e às autoridades para que libertem Osvaldo Caholo, lembrando que a liberdade de expressão não é crime. “Ele defende o povo angolano, o bem-estar das pessoas, e por isso foi preso. Falar não é crime”, afirmou.

Ela chama-se Isabel Correia, mãe do Osvaldo Caholo, um activista angolano que se encontra detido pela segunda vez, a primeira detenção aconteceu no consulado de José Eduardo dos Santos, no processo onde 17 activistas acabaram detidos por se reunirem para lerem e discutirem o livro “Da Ditadura à Democracia”, de Gene Sharp, que aborda métodos pacíficos de resistência.

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

O Decreto: Quantas vezes o seu filho foi detido?

Isabel Correia: Bom, é a segunda vez que ele está detido.

O Decreto: Como é que lhe caiu a segunda detenção de Osvaldo Caholo sabemos que a primeira foi no processo dos 17 jovens ?

Isabel Correia: Muito mal. Uma pessoa não pode estar detida todo o tempo. Todo o tempo é a mesma pessoa, não dá.

O Decreto: O que terá acontecido desta vez?

Isabel Correia: Desta vez é apologia, incitação às manifestações. Nós não sabemos o que está por detrás disso, o que se passa. Só sabemos que há um crime de apologia e incitação às manifestações.

O Decreto: O Osvaldo já recebeu a vossa visita?

Isabel Correia: Sim, temos visitado, mas há sempre muita restrição. Ele ficou um mês numa cela fechada. Quando começávamos a falar, tiraram-no da cela. Nem banho de solo apanhava, só ficou dentro da cela. Depois tiraram-no, mas sempre há restrições. Às vezes só 10 minutos para visitar, às vezes 5 minutos. Não sabemos o que ele fez, se matou alguém, algum dirigente… não sabemos.

O Decreto: O que a senhora acha do que Osvaldo tem defendido publicamente?

Isabel Correia: Ele tem defendido o povo angolano, o bem-estar do povo. Mas como muitos não gostam disso, prenderam-no mais uma vez, e não sabemos até quando.

O Decreto: O que a polícia ou a justiça dizem em relação a Osvaldo? Vocês têm advogado?

Isabel Correia: Temos advogados, mas a justiça dizia que era a ordem superior. Ainda existem essas ordens. Não sabemos exactamente quem são, porque quem foi buscá-lo foi o SIC, pôs no SINSE, e quando íamos lá não conseguíamos ver. Buscaram-no em casa, não sabemos quem exactamente.

O Decreto: Das vezes que vocês estiveram com Osvaldo Caholo, como é que ele está?

Isabel Correia: Ele está batido, porque é pai de família, trabalha para os filhos e a esposa, mas não demonstra.

O Decreto: Vocês sabem quanto tempo mais as autoridades vão mantê-lo preso ou já há um julgamento previsto?

Isabel Correia: Não há nenhum julgamento. Nem os advogados conseguiram (alterar) a medida para prisão domiciliar. O documento que o advogado levou ao Tribunal de Garantia foi mandado ao SIC, não sabemos se é SIC ou Miala que mandou.

O Decreto: Desde a primeira detenção que a senhora vem defendendo o seu filho. Qual é o sentimento da senhora ao defender e denunciar tudo sobre Osvaldo?

Isabel Correia: Eu defendo sim. Tenho essa veia porque fui política, cresci na política. Quando o MPLA chegou, o meu pai também foi político. Trabalhei como activista, sempre a lutar pelo povo. Agora defendo meu filho, porque ele defende a causa do povo angolano e não é bajulador. Ele nunca roubou ninguém.

O Decreto: Não tem medo de ser perseguida por defender o seu filho?

Isabel Correia: É normal se eu ser perseguida, eu tenho 69 anos. Se eu morrer, também não faz mal. Nunca me senti ameaçada.

O Decreto: O que a sua família diz sobre a atitude do seu filho?

Isabel Correia: A minha família pede para conversar com ele, mas ele diz que não. Ele foi à tropa muito cedo, foi o melhor aluno, fez psicotécnico, ganhou bolsa para a Rússia, mas foi impedido por generais. Estudou, deu aula na UTANGA, com direito a bolsa para mestrado em Portugal, mas já estava preso. Nunca ficou frustrado, faz o que pode, nunca roubou.

O Decreto: Acha que as injustiças moldaram Osvaldo Caolo?

Isabel Correia: Sim, a injustiça.

O Decreto: E que acha da governação de João Lourenço?

Isabel Correia: Má, péssima. Há pessoas a morrerem de fome. Crianças passam nos contentores.

O Decreto: Se pudesse falar com João Lourenço, o que lhe diria?

Isabel Correia: Diria para mudar a governação, porque está a matar muita gente. Soltem meu filho, o falar não é crime. As galinhas também reclamam, não há milho, então soltem o meu filho. Ele nunca roubou.

O Decreto: Qual recado deixa para outras mães em Angola?

Isabel Correia: Vamos nos juntar e lutar contra este partido que nos faz sofrer. Mesmo que venha outro partido, é só por um ou dois mandatos. Chega de 50 anos de escravatura.

O Decreto: Muito obrigado, Dona Isabel, por aceitar a nossa conversa.

Isabel Correia: Está tudo bem, obrigado. Também fico muito grata, é um descontentamento que tenho como mãe e quero passar às outras pessoas. Muito boa tarde.

Coque Mukuta

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