O país foi surpreendido com a notícia de que o humorista Cessalty, mais conhecido como “Tia Bolinha”, teria sido detido por alegado abuso sexual contra a sua filha de criação. O tema rapidamente tomou conta das redes sociais e foi abordado por diversos meios de comunicação, incluindo programas como Fala Angola, Ecos & Factos, telejornais e jornais nacionais, além de sites como Platinaline.

No auge da polémica, um representante do DIP confirmou publicamente que a detenção estaria ligada a uma denúncia feita pela própria esposa do artista, relacionada ao abuso sexual. No entanto, dias depois, Cessalty surge num vídeo ao lado da esposa, desmentindo tudo e alegando que o motivo da detenção foi apenas uma discussão familiar.

Se a versão do casal for verdadeira, como surgiram tantas notícias consistentes a apontar para abuso? Será que uma figura como a Weza, próxima da família, comentária nas suas redes sociais “esperando pela verdade” sem algum tipo de confirmação? E mais: se tudo não passou de um conflito conjugal, por que o esclarecimento só surgiu no sábado exatamente no dia em que a UNITA realizava o seu congresso?

Custa não perceber essa coincidência. A detenção teria ocorrido na quinta-feira, mas só no sábado a “verdade” veio à tona. A pergunta é inevitável: terá sido uma jogada de marketing político para desviar a atenção de um evento de grande relevância nacional?

O mais grave de tudo isso é que, se for verdade que a narrativa do abuso foi fabricada, isso cria um precedente perigoso. Faz com que o público comece a duvidar de vítimas reais. Fortalece a ideia de que denúncias são apenas jogadas mediáticas. Torna o tema do abuso sexual num assunto banalizado quando deveria ser tratado com a máxima seriedade.

Além disso, a forma como as autoridades lidam com o caso levanta outras questões. Por que há tanta proteção quando se trata de figuras públicas? Será que a justiça só se aplica aos pobres que roubam telefones e galinhas? Parece que os que pertencem ao partido do poder gozam de uma impunidade vergonhosa.Casos como este abalam a confiança pública e levantam sérias dúvidas. Embora os meios de comunicação social façam o seu trabalho com ética e deontologia profissional, seguindo os devidos protocolos antes de tornar uma matéria pública, situações como esta acabam por minar a credibilidade desses órgãos não por falta de profissionalismo, mas devido à manipulação partidária que tenta descredibilizar quem apenas quer informar o povo com verdade.

A sociedade precisa refletir: estamos a proteger agressores só porque têm fama ou ligação ao poder? Se for marketing, isso revela um problema muito mais profundo: estamos a transformar a dor em palco, a justiça em espetáculo e a verdade em moeda de troca.

Precisamos de respostas sérias. E acima de tudo, precisamos proteger a dignidade das vítimas  e não a imagem dos culpados.

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