O presidente da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST) afirmou hoje, em Lisboa, que há uma “fuga fora do comum” de angolanos para o exterior, um sinal da incapacidade do poder político em promover o desenvolvimento.
“Há uma fuga fora do comum, sobretudo dos jovens. E isto está a preocupar-nos”, afirmou José Manuel Imbamba, na conferência de imprensa final do XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, que decorreu em Lisboa.
“Temos chamado atenção aos governantes em relação a este fenómeno atípico”, porque “Angola tem tudo para reter os seus filhos e tem tudo para prosperar e para se desenvolver, mas as políticas públicas que são levadas a cabo é que não têm sido capazes de gerar o desenvolvimento esperado”, afirmou.
Esta fuga de quadros deve-se “à falta de respostas concretas locais para as interrogações que os jovens apresentam”, disse, admitindo que “há um certo vazio quanto à qualidade de respostas em termos de garantia de emprego, de garantia de escolarização ou de garantia de criar-se aquela classe média que desapareceu em Angola”.
As famílias angolanas estão “cada vez mais empobrecidas”, o que “faz com que haja esse novo fluxo de imigrantes angolanos para Portugal e não só”, acrescentou o também arcebispo de Saurimo, que aponta o dedo aos responsáveis políticos.
A falta de desenvolvimento é a “razão pela qual os jovens, maioritariamente, estão em fuga, em busca de melhores condições, de melhor vida para as suas famílias”, disse o responsável, que comentou o novo pacote legislativo português sobre migrações e nacionalidade, com medidas mais restritivas.
“Cada país é soberano no que diz respeito às leis que deve fazer para o seu bem, mas também é verdade que hoje a mobilidade é inevitável e acho que as famílias são livres de buscarem os lugares os países onde bem acharem constituir e construir a sua dignidade”, explicou.
Por isso, “as políticas do futuro terão de saber lidar com esta realidade. Não podemos fechar as portas, não podemos fechar-nos nos nossos nacionalismos, nos nossos egoísmos sociais”, acrescentou Imbamba.