A presidente do parlamento angolano, Carolina Cerqueira,
disse hoje, em Maputo, aguardar informação oficial sobre deputados impedidos de
participar na manifestação de sábado, em Luanda, contra os aumentos dos preços
dos combustíveis, afirmando que são “constitucionalmente protegidas”.
“Eu tive conhecimento pelas redes sociais (…) soube
também que deputados manifestaram-se, estiveram nas manifestações, então eu
espero que o meu gabinete receba qualquer informação sobre essa situação para
nós podermos analisar com as estruturas competentes”, disse Carolina Cerqueira,
questionada pela Lusa, em Luanda, à margem da abertura da 14.ª reunião da
Assembleia Parlamentar da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (AP-CPLP).
A polícia angolana dispersou no sábado com gás lacrimogéneo a marcha de
centenas de cidadãos que protestavam, em Luanda, contra o aumento do preço dos
combustíveis e dos transportes coletivos, criticando as autoridades
governamentais.
Deputados da União Nacional para a Independência Total de
Angola (UNITA, maior partido da oposição) denunciaram ter sido impedidos de
participar no protesto pela polícia, em vídeos colocados a circular nas redes
sociais.
Contudo, a presidente da Assembleia Nacional diz
desconhecer, oficialmente, a participação destes deputados no protesto:
“Eles dizem que participam como cidadãos, não têm que me explicar se
participam ou não. Podem participar, mas depois se há consequências, eu tenho
que saber formalmente para poder também agir institucionalmente”.
“Estamos em democracia e, efetivamente, se houve algum
distúrbio ou alguma situação menos aconselhável ou menos favorável a que
ocorresse essa manifestação num ambiente ordeiro e de respeito mútuo, eu ainda
não recebi na Assembleia Nacional, de forma formal, informações sobre isso, mas
certamente que iremos analisar porque nós queremos que Angola continue a ser um
país de paz, de ordem, e de estabilidade entre as várias diferenças políticas
existentes”, disse ainda.
Centenas de cidadãos, entre ativistas, membros da sociedade
civil, taxistas, vendedores, estudantes e membros de partidos políticos na
oposição juntaram-se à marcha promovida pelo denominado movimento social contra
o decreto que aprova o reajuste do preço dos combustíveis em Angola.
Empunhando cartazes com dizeres como “combustível sobe,
barrica ronca”; “300 kwanzas é muito”, “não aceitamos leis
que matam o povo”, “estamos cansados de comer no lixo”, “o
país é bom, mas o MPLA (partido no poder) é que não presta”, a marcha teve
início no largo do Mercado de São Paulo.
“As manifestações são constitucionalmente protegidas em
Angola, segundo a Constituição da República de Angola, a manifestação é um ato
político que é desempenhado através de mecanismos de articulação, de
informação, de concertação com as instituições da ordem pública, e foi nesse
sentido que houve”, sublinhou ainda Carolina Cerqueira.
Com a intenção de alcançar o Largo Maianga, a 200 metros da
sede da Assembleia Nacional (parlamento), os manifestantes depararam-se ainda
com uma segunda barreira já composta por efetivos da Polícia de Intervenção
Rápida (PIR).
Determinados a caminharem até ao centro da capital angolana,
muitos manifestantes procuraram alternativas para escaparem das várias
barreiras policiais, montadas nas principais ruas de Luanda, e alguns
manifestantes conseguiram mesmo chegar até às imediações da sede do Governo
Provincial de Luanda.
Para travar a pretensão dos manifestantes, alguns dos quais
afirmaram ter como destino o Palácio Presidencial, a polícia dispersou a marcha
com o lançamento de gás lacrimogéneo.
A situação gerou pânico entre os manifestantes e transeuntes
que procuraram um lugar para se refugiar, entre gritos e críticas à postura da
PIR, que em vários pontos lançou bombas de gás lacrimogéneo, tendo-se registado
feridos e algumas pessoas desmaiaram.
A tarifa dos táxis coletivos em Angola passou a ser de 300
kwanzas por viagem (0,28 euros) e a dos autocarros urbanos subiu para 200
kwanzas por viagem (0,19 euros), desde segunda-feira, uma medida que surge na
sequência do aumento do preço do gasóleo, que passou de 300 para 400 kwanzas por
litro (0,28 para 0,37 euros) a partir de 04 de julho.