Uma ida a julgamento irá servir para entender se a ex-presidente da Sonangol tem efetivamente uma ambição política, a qual poderá passar por uma candidatura presidencial nas próximas eleições, marcadas para agosto de 2027.
Quase seis anos depois de a Procuradoria- Geral da República (PGR) de Angola ter decretado o arresto preventivo de contas bancárias pessoais de Isabel dos Santos, o caso da empresária que é acusada de onze crimes no processo que envolve a sua gestão na petrolífera estatal angolana Sonangol, entre 2016 e 2017, vai chegar finalmente a tribunal.
Tudo começou a 30 de dezembro de 2019 e pelo caminho aconteceram mudanças substantivas. O marido de Isabel dos Santos, que era igualmente acusado pela PGR, Sindika Dokolo, faleceu a 29 de outubro de 2020. E o seu pai, o ex-presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que a havia nomeado para liderar a Sonangol, também morreu, a 8 de julho de 2022.
Isabel dos Santos, acossada pela justiça angolana, vive praticamente desde 2020 em permanência no Dubai e o cerco tornou-se ainda mais efetivo em novembro de 2022, quando a Interpol emitiu um mandado de captura internacional contra ela.
Após a condenação de Carlos São Vicente e o julgamento em curso dos generais Hélder Vieira Dias (Kopelipa) e Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino), o processo de Isabel dos Santos é visto com o último ato de rutura com um passado fulanizado em José Eduardo dos Santos. Não é expectável que a empresária se desloque a Angola para se defender presencialmente das acusações que lhe são formuladas, mas é previsível que continue a afirmar-se como oposição ao atual Presidente de Angola, João Lourenço.
Carlos São Vicente foi condenado em março de 2022 a nove anos de prisão efetiva, pelo Tribunal da Comarca de Luanda, e ao pagamento de uma indemnização de 500 milhões de dólares pela
A instrução contraditória do processo de Isabel dos Santos está marcada para esta quinta-feira.
prática dos crimes de peculato, branqueamento de capitais e fraude fiscal, por via de um suposto desvio de 900 milhões de dólares da Sonangol. Kopelipa e Dino, dois fiéis escudeiros de José Eduardo dos Santos, os quais são acusados de tráfico de influências, branqueamento de capitais, falsificação de documento, associação criminosa e abuso de poder, através de um esquema que envolvia o acordo de financiamento entre a China e Angola para apoiar a reconstrução do país.
Protagonista mediática
A instrução contraditória de Isabel dos Santos está marcada para esta quinta-feira, 22 de maio. Esta fase foi requerida pelo advogado da empresária, Sérgio Raimundo, e visa apreciar a viabilidade da acusação para comprovar a decisão judicial de deduzir a acusação, levando o arguido a julgamento, ou arquivar a instrução inicial.
Apesar desta iniciativa, é praticamente garantido que Isabel dos Santos irá mesmo a julgamento, até tendo em consideração a dimensão política do seu caso. O atual Presidente de Angola sempre a identificou como a protagonista mais mediática dos casos de corrupção que envolveram o consulado de José Eduardo dos Santos e o Ministério Público irá fazer tudo para provar esta tese. Isabel dos Santos é acusada de peculato, burla qualificada, abuso de poder, abuso de confiança, falsificação de documento, associação criminosa, participação económica em negócio, tráfico de influências, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada.
O julgamento irá igualmente servir para entender se Isabel dos Santos tem efetivamente uma ambição política, a qual poderá passar por uma candidatura presidencial nas próximas eleições, agendadas para agosto de 2027. Jornal de Negócios