Em resposta ao cessar-fogo unilateral da FLEC-FAC em Cabinda, Luanda acusa o maior partido na oposição, a UNITA, de estar em “negociatas” com o movimento independentista, num contexto de deserções de supostos altos oficiais militares do referido grupo.
As autoridades angolanas repudiam, igualmente, a Rádio Televisão Portuguesa (RTP) por ter difundido a notícia sobre o cessar-fogo, que considera falsa, e reafirma que a situação sócio-política e militar na região é estável.
Em nota distribuída à imprensa, o Governo angolano reagiu à iniciativa da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC-FAC) de suspender as hostilidades por sessenta dias na região. O executivo denuncia o facto de a UNITA estar a negociar com o grupo e considera a RTP de ser o órgão preferencial para a divulgação de alegadas notícias falsas sobre o enclave de Cabinda.
O responsável para a Comunicação da UNITA, Evaldo Evangelista, desvaloriza as acusações, alegando que o Governo está com dificuldades em admitir que há conflito em Cabinda.
“São acusações que demonstram que o Governo angolano está com alguma dificuldade em aceitar e admitir que há conflito. O conflito em Cabinda existe e é real. Agora, querer envolver a UNITA neste conflito não é o mais recomendável e não é aceitável. O que a UNITA fez, foi trazer para o povo a solução para Cabinda e o povo de Cabinda acolheu esta ideia, abraçou-a e povo de Cabinda acha que a UNITA é um mediador válido para fazer a ponte para este dialogo”, disse o político.
A nota contesta veementemente a matéria veiculada no programa “Bom Dia Portugal”, da RTP, que reportou a existência de um suposto cessar-fogo na referida província, sugerindo a ocorrência de conflito armado na região.
Angola considera a reportagem enganosa e eivada de malícia, assim como desprovida de veracidade, acusando a RTP de forjar imagens e de fomentar uma percepção errada da realidade de Cabinda.
O comunicado critica ainda a suposta tentativa da RTP em alimentar o sensacionalismo, colocando em causa os princípios éticos do jornalismo.
Por fim, o Executivo lamentou o que considera um “posicionamento acintoso e reiterado” da RTP contra Angola, especialmente num ano emblemático em que se celebram os 50 anos da Independência do país.
Deserções na FLEC-FAC
Nesta terça-feira, 15 de abril, mais de duzentos supostos ex-militares do grupo independentista de Cabinda anunciaram, em conferência de imprensa, em Luanda, o abandono da organização, devido a maus-tratos e falta de condições nas matas, como relata o antigo chefe do Estado-Maior adjunto das Operações da FLEC-FAC, Martins Chincoco.
“O nosso objectivo era a independência, neste preciso momento já não queremos escutar este nome de FLEC. Trabalhámos muitos anos com o senhor Jean Claude Nzita e com o presidente Emmanuel Nzita. Falta de alimentação, remédio e até a própria arma…tanto sofrimento, por isso é que nós viemos”, desabafou o alegado desertor da Frente de Libertação do Estado de Cabinda.
O grupo de desistentes alega que a “situação no teatro das operações” é insuportável pelas condições à disposição de combatentes, admitindo a deserção de mais militares nos próximos dias.
A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC-FAC) declarou um cessar-fogo unilateral até 14 de Junho de 2025. Em resposta, o secretário do Bureau Político do MPLA para a Informação, Esteves Hilário, afirmou à RFI “não haver conflito armado no norte do país”. RFI