O presidente de Angola, João Lourenço, afirmou, nesta quinta-feira, 27, no Icolo e Bengo, na inauguração da Casa do Kwanza, que é “quase inglória” acabar com a corrupção no país, contudo ninguém deve sair impune quando assim cometer. Em contrapartida, sabe-se que João Lourenço tem sido o grande protector do seu amigo Edeltrudes Costa, director do Gabinete da Presidência da República, acusado de estar envolvido em vários escândalos de corrupção.
“Nunca ninguém disse que vamos acabar com a corrupção em Angola, isso é uma luta quase que inglória, porque não existe país nenhum que tenha conseguido fazer. O que é importante é que todos aqueles que forem apanhados na malha da luta contra a corrupção não beneficiem de nenhum tipo de impunidade”, disse o Chefe de Estado.
Um dos escândalos que envolve o braço direito e protegido do Presidente da República é a autorização do próprio João Lourenço à contratação de uma empresa de consultoria de Edeltrudes Costa, que tinha como objectivo, entre os projectos, a modernização dos aeroportos do país, que rendeu vários milhões de dólares em contratos públicos, e o dinheiro acabou por ir parar ao Portugal, onde foi utilizado para compra de casas de luxo em Sintra e Cascais.
Eldetrudes Costa enviou ainda dinheiro para o Panamá, utilizando uma sucursal do então Banco Espírito Santo (BES) na zona franca da Madeira.
Desde que João Lourenço assumiu o poder, o Eldetrudes Costa tem sido o seu braço direito, movendo-se há vários anos nos corredores do poder angolano, mesmo durante os mandatos de José Eduardo dos Santos, tendo sido ministro de Estado e chefe da Casa Civil durante esse período.
Jornal Hora H sabe que vários contratos públicos da empresa de Edeltrudes Costa foram conseguidos com o aval do Presidente angolano.
A empresa EMFC – Consulting, S.A, é detida por Eldetrudes, que tem poderes ilimitados, sendo que o seu mandato à frente da companhia só pode ser revogado com autorização do próprio e que não tem prazo de caducidade.
Num despacho aprovado pelo Presidente João Lourenço, é mencionada a contratação da Roland Berger, num documento que prevê a subcontratação da EMFC. O contrato refere-se a Fevereiro de 2019 e o outorgante que o assina pela EMFC é português: Nuno Monteiro Dente, que é representante da Roland Berger desde 2018, estando assim envolvido em ambas as empresas contratadas.O português foi um dos integrantes da listas do Iniciativa Liberal às últimas eleições legislativas em Portugal, concorrendo pelo círculo de Viana do Castelo.
Grande parte do dinheiro resultante do contrato foi parar às terras lusas, o que levou o banco central a investigar as transferências e Eldetrudes Costa, tendo por base falhas graves na prevenção de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.
Apesar de nunca ter ocupado cargos que lhe rendessem grandes fortunas, conforme as investigações da TVI, Eldetrudes Costa tinha, entre euros, dólares e kwanzas, o equivalente a 20 milhões de euros.
O dinheiro transferiu para Portugal e comprou, entre outras coisas, uma casa em Cascais, que custou mais de 2,5 milhões de euros, e está no nome da ex-mulher, Ariete Faria, a PCA da EMFC.
Através de um offshore na Madeira, e com dinheiro que passou pelo BES, comprou também um apartamento de luxo numa propriedade de Donald Trump no Panamá.
Outro contrato descoberto refere-se a um serviço para a CNE, num trabalho que a empresa de Edeltrudes Costa fez para as eleições que terminaram com a vitória de João Lourenço. Só com este negócio terá arrecadado perto de um milhão de euros.
Se é com a impunidade que João Lourenço quer desincentivar a corrupção em Angola, como ele já afirmou em 2017, que “ninguém é tão pobre ao ponto de não ser protegido e tão poderoso ao ponto de não ser punido”, que combata também os amiguinhos, porque nenhum amigo que defrauda as contas do Estado está acima das leis.
FONTE:Jornal Hora H