A arrogância política tem limites. Ou deveria ter. Mas no Cuanza Norte, o governador João Diogo Gaspar insiste em tomar os cidadãos por imberbes e irracionais.
Num país onde a democracia é um princípio constitucional, o governante teve a audácia de justificar a violência policial contra deputados eleitos, com o absurdo argumento de que ficaram sob custódia da Polícia Nacional “por razões de segurança.
Dois deputados do Grupo Parlamentar da UNITA, Francisco Fernandes Falua e João Quipipa Dias, foram detidos e espancados pela Polícia Nacional quando se preparavam para participar numa marcha pacífica convocada pela sociedade civil.
A manifestação visava exigir respostas das autoridades sobre os assassinatos brutais de camponesas idosas, um fenómeno que assombra a província há mais de um ano.
As palavras de João Diogo Gaspar são de um cinismo revoltante. A segurança de quem? Dos deputados que foram agredidos? Ou das autoridades que não querem prestar contas sobre os crimes hediondos que ocorrem no Cuanza Norte?
O governador esquece-se de que a população não é tola. Se a intenção era garantir a segurança dos deputados, por que razão foram brutalizados pela polícia?
O cinismo das palavras do governador fica ainda mais evidente quando analisamos a sua inércia face às mortes de idosas nas lavras. São mais de dez mulheres brutalmente assassinadas em circunstâncias chocantes, sem que houvesse qualquer avanço significativo nas investigações.
A cada novo crime, as autoridades emitem comunicados vazios, recomendam às camponesas que se desloquem em grupo para não serem violadas e mortas, e pedem “colaboração da população”.
O governador deveria lembrar-se de que é seu dever garantir a segurança da população e não transferir essa responsabilidade para as próprias vítimas.
Em vez de garantir que os verdadeiros criminosos sejam levados à justiça, o menino João Gaspar prefere silenciar os protestos e perseguir quem exige respostas. A táctica é antiga: inverter as prioridades, transformar vítimas em culpados e impedir que a população tenha voz.
O governador é rápido a mandar reprimir deputados, mas lento, ineficaz e Convenientemente apático quando se trata de proteger as idosas Camponesas que continuam a morrer de forma brutal.
Até quando a população do Cuanza Norte suportará este descanso? Até quando assistirá calada à cumplicidade das autoridades com a impunidade?
João Diogo Gaspar deve perceber que os angolanos estão cansados de governantes que escondem a incompetência por trás de discursos manipuladores. Se não tem capacidade para garantir a segurança das pessoas e respeitar os direitos democráticos, então não está apto para governar.