Em causa está a não recondução dos administradores municipais e responsáveis de vários gabinetes provinciais, da etnia Hungu, um subgrupo etnolinguístico da etnia Kongo, que habita maioritariamente no Norte da província
Adenúncia consta numa carta dirigida ao Pungo a Ndongo e assinada pelo cidadão Tomás Quissanga, que acusa o governador João Diogo Gaspar de ter preferido, para os novos cargos, quadros da etnia kimbundu, em detrimento dos Hungu, no quadro da nova remodelação efectuada em Janeiro, inserida da nova Divisão Político-Administrativa.
Segundo a missiva, por altura em que o governador assumiu o cargo, em 2023, havia dois administradores municipais, de origem Hungu, sendo um no município da Banga e outro em Cambambe (Dondo), esses foram exonerados, nas mexidas realizadas para a rotação de quadros.
O subscritor refere que nas dezenas de nomeações feitas, recentemente, por João Diogo Gaspar, não consta nenhum Hungu, para exercer cargo num dos gabinetes provinciais, nem mesmo como titular em qualquer administração municipal, tendo apenas ‘sobrevivido’ o adjunto da Banga.
“Isso pressupõe dizer que os Hungu ou Mahungu, como são também conhecidos não agregam valores em nenhuma esfera técnica e académica, por essa via, são preteridos para o plano Z em detrimento dos Kimbundus ”, desabafa.
Na carta, Tomás Quissanga apesar de concordar com a rotaçao de quadros, para dinamizar o sector público e trazer novas valências para materializar os objectivos preconizados, defende a política de inclusão, que passa pela integração de quadros de todas etnias.
“Seria justo e compreensível que houvesse uma distribuição equitativa dos cargos… Os Hungu não devem ser excluídos por nada porque, também, agregam valores em todas as latitudes, na academia, na tecnologia, na política e noutras esferas”.
Da administração à política Segundo a carta, a alegada exclusão dos Hungu tem-se registado também na selecção dos candidatos à lista de deputados à Assem bleia Nacional, no círculo provincial, sendo que os primeiros cinco lugares elegíveis são atribuídos aos kimbundu, e os suplentes aos Hungu.
“É preciso ter a coragem de dizer basta de práticas que estimulam a subalternização de uns em detrimento do outros, por se julgarem ser os mais inteligentes, os mais merecedores, os detentores absolutos da razão e do conhecimento”, lê-se numa passagem da carta.
Mais adiante, desabafa, sublinhando que “não pode haver nenhuma etnia no Cuanza- -Norte que se vanglorie e se auto-considere como a única”, tendo reconhecido que o governador começou bem o seu consulado, com um espírito congregador. “De lá para cá, vinha alimentando a esperança de ser alguém congregador, de ser alguém capaz de olhar o povo da província que dirige como um todo sem exclusão de etnias”, observa, Tomás Quissanga.
Sobre o assunto, o Pungo a Ndongo contactou por duas vezes o director do Gabinete de Comunicação Social da Província do Cuanza Norte. Nuno Agnelo prometeu pronunciar-se, mas lamentavelmente não o fez até ao fecho desta edição, na noite desta sexta-feira.