A União Europeia (UE) afirmou hoje que o avanço do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) no leste da República Democrática do Congo é uma violação “inaceitável” do cessar-fogo, agravando a situação humanitária “desastrosa”.
“A UE insta o M23 a parar o seu avanço e a retirar-se imediatamente” e “reitera que o Ruanda deve deixar de o apoiar e retirar-se”, afirmou a Alta Representante para os Negócios Estrangeiros europeia, Kaja Kallas, numa declaração em nome dos 27 Estados-membros.
A UE “condena veementemente” a presença militar do Ruanda na RDCongo, considerando-a “uma clara violação” do direito internacional, da Carta das Nações Unidas e da integridade territorial do país africano. Simultaneamente, Bruxelas voltou a instar a RDCongo a cessar a sua cooperação com as chamadas Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), uma das últimas fações remanescentes dos rebeldes hutus ruandeses no Congo, e com outros grupos armados.
A UE manifestou “profunda preocupação” com a contínua escalada do conflito no leste da RDCongo, agravada pela nova ofensiva do M23, apoiado pelas Forças Armadas do Ruanda (FDR), que “compromete” os esforços liderados por África para alcançar uma solução pacífica para o conflito. Os 27 também “condenam veementemente” a tomada pelo M23 das cidades de Minova e Sake nos dias 21 e 23, respetivamente.
Este avanço empurrou mais deslocados internos para campos sobrelotados em torno de Goma, onde mais de 800.000 pessoas estão abrigadas e em risco de ficarem presas entre os combatentes.
A UE alertou para o facto de a ameaça do M23 de conquistar Goma ser “inaceitável” e de trazer consequências “graves” em termos de segurança e humanitárias no terreno, tendo dado o seu apoio “inabalável” à Missão de Estabilização da ONU na República Democrática do Congo (Monusco).
A Monusco informou na sexta-feira que continua a apoiar as forças armadas congolesas para travar o avanço do M23 e que os ‘capacetes azuis’ reposicionaram as suas tropas para reforçar o seu destacamento em Goma e arredores.
A missão de paz da ONU instou as duas partes a “retomarem rapidamente um diálogo franco para encontrar uma solução sustentável e definitiva para o conflito que causou deslocações maciças, necessidades humanitárias e sofrimento humano”. Por seu lado, os rebeldes anunciaram que estão a avançar em direção a Goma e instaram a Monusco a “abster-se de intervir” no conflito.
Os combates intensificaram-se nas últimas semanas após a suspensão da cimeira de paz prevista para 15 de dezembro em Angola, que deveria contar com a presença dos presidentes congolês e ruandês, Félix Tshisekedi e Paul Kagamé, respetivamente.
Embora as autoridades ruandesas neguem a alegada colaboração de Kigali com o M23, este facto foi confirmado pelas Nações Unidas, tendo o próprio Kagamé manifestado publicamente o apoio aos rebeldes.
Por sua vez, o Ruanda e o M23 acusam o exército congolês de colaborar com os rebeldes das FDLR, fundado em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e por outros ruandeses exilados na RDCongo para recuperar o poder político no país, colaboração também confirmada pela ONU.
Desde 1998, o leste da RDCongo está mergulhado num conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da Monusco.