Em Angola, a criação de novos partidos políticos tornou-se quase um ritual cíclico, mas com um problema evidente: falta de clareza ideológica. Quantos de nós já testemunhámos o surgimento de uma nova força política, sem nunca ouvir uma definição precisa dos seus princípios orientadores? As perguntas que deveriam ser feitas ao início – “Este partido é de direita, esquerda, ou centro?” – são frequentemente ignoradas, enquanto o foco se desloca para o seu fundador.
Por Malundo Kudiqueba Paca
Infelizmente, o nome do líder sobrepõe-se aos fundamentos ideológicos do partido, e isso reflecte um sintoma mais profundo da nossa cultura política. Em vez de um debate sério sobre ideias e propostas, o povo angolano tende a reagir ao carisma ou à história pessoal de quem lidera, como se isso fosse o suficiente para definir o rumo que um partido pretende seguir. Escutamos que “Abel Chivukuvuku criou um partido”, e a sociedade rapidamente se polariza entre os que criticam e os que elogiam, muitas vezes sem nunca questionar o essencial: o que este partido realmente defende?
Antes de qualquer análise superficial, seria sensato e necessário perguntar: Quais são os princípios ideológicos deste novo partido? Será uma formação de esquerda, que preconiza a igualdade social e uma maior intervenção do Estado? Ou será um partido de direita, defensor do liberalismo económico e das liberdades individuais? Ou, quem sabe, estará a posicionar-se no centro, procurando um equilíbrio entre estas duas abordagens?
Em Angola, poucas pessoas se preocupam com estas questões fundamentais. O debate político ignora, com demasiada frequência, conceitos ideológicos essenciais. Este vazio de discussão sobre ideias transforma a política angolana num cenário dominado por personalidades, onde o carisma e a notoriedade do líder parecem mais importantes do que a visão para o país. Um partido, contudo, não pode ser apenas uma extensão da personalidade do seu fundador. A sua essência deveria estar nas ideias que defende e na clareza com que apresenta a sua visão para o futuro.
O problema é que o conceito de ideologia parece ausente do vocabulário político em Angola. Quando partidos são criados, a ideologia deveria ser o ponto de partida, e não o nome que vai estampar os cartazes de campanha. O que vemos, no entanto, é uma sociedade onde, ao invés de perguntas profundas sobre os valores de um partido, o cidadão comum muitas vezes elogia, critica ou até ofende sem um verdadeiro entendimento do que está em causa. Esta falta de reflexão compromete a qualidade do nosso debate político.
É fundamental que os partidos políticos sejam analisados pelas suas ideias e não pelo carisma dos seus líderes. A ausência de clareza ideológica impede um verdadeiro confronto de propostas, tornando a nossa política mais superficial. Perguntar se um partido é de direita, esquerda, extrema-direita, extrema-esquerda ou centro não deveria ser uma excepção, mas a regra. É assim que se constrói uma democracia madura e consciente.
Em Angola, os partidos surgem, mas a sua base ideológica permanece uma incógnita para muitos. As pessoas falam sobre novos partidos, mas poucos se preocupam em compreender o que realmente estes representam em termos de ideias e de visão para o país. O povo angolano precisa de aprender a votar com base em princípios, ideias e projectos, e não apenas em nomes.
Sem um debate ideológico profundo, os partidos tornam-se bandeiras vazias, incapazes de proporcionar uma verdadeira alternativa ou de apresentar soluções para os desafios do país. A política angolana continuará a ser frágil e limitada enquanto os princípios ideológicos forem ignorados. Votar sem entender a ideologia de um partido é como escolher um caminho sem saber para onde nos leva. Esta escolha cega compromete o futuro de todos nós.
É urgente que os angolanos comecem a perguntar: “Este partido representa que valores? Que visão tem para o futuro de Angola?” Apenas quando fizermos estas perguntas, poderemos avançar para uma política mais madura, baseada em ideias, convicções e, acima de tudo, em clareza ideológica.