Hoje vamos falar com o Man Pakas, que é o nome mais vulgar que a gente conhece para os amigos. Para outros é o General Pakas.

NGUXI DOS SANTOS

Quem é o Manuel Mendes de Carvalho, Pakas?
Manuel Mendes de Carvalho, Pakas sou eu.
Eu chamo-me Manuel Mendes de Carvalho Pacavira, vulgarmente conhecido por Pakas ou General Pakas. Eu sou filho de Agostinho Mendes de Carvalho patrono desse memorial onde nos encontramos, natural do local onde estamos a realizar esse trabalho e de uma MumuHuíla chamada Maria da Glória Paulo natural da Humpata.
Eu tenho nas minhas raízes origem Baluba e outra origem kimbundu na parte do meu pai.

Quando é que se tornou militar das FAPLA?
Eu tornei-me militar das FAPLA no dia 1 de Agosto de 1974. Participei restritamente na guerrilha do MPLA. Antes da constituição das FAPLA eu já estava na guerrilha do MPLA. Estive no congo, ponta Negra, Dolisie e Brazzaville e estive na Zâmbia no Vici. Que era a base número 1 vitória é certa, onde Agostinho Neto permanecia a maior parte do tempo.

VAI PARA A GUERRILHA DO MPLA EM 1974?
Eu não fui para o MPLA. Eu fui para a guerrilha do MPLA. Força das circunstâncias meu pai era considerado terrorista, meu pai estava preso no Tarrafal e praticamente nós fomos forçados pelo descontentamento a ingressar no processo revolucionário. Eu ainda criança ouvia os meus tios mais velhos que comigo viviam no bairro Indígena, hoje chamam o bairro Indígena de bairro dos Congolenses, mas naquela altura não havia nenhum congolês que estava a morar ali e, os grandes promotores, os pioneiros da revolução para nós os negros era a UPA, que era o partido que mais se falava.

PORQUE QUE NÃO ENTROU NA UPA?
Era tao pequeno. Não sou como esses aldrabões que dizem ter entrado no MPLA com 12 anos. Não! Eu assisti toda aquela mortandade do 4 de Fevereiro, estávamos para fugir levados pela minha mãe para a guerrilha. Bendita hora que o guia naquele dia não apareceu. Provavelmente não iriamos chegar ao Congo. Iríamos morrer ao meio do caminho. E ficamos que era para ir estudar no Anangola e até hoje nem no Anangola entramos e os que foram levados no primeiro dia, o carro nunca mais apareceu que era para ir nos levar. E cá estamos.

LEMBRA-SE DE ALGUNS SEUS COLEGAS NA GUERRILHA? COM QUEM COMPARTILHOU VÁRIAS COISAS? VÁRIOS MOMENTOS DA GUERRILHA?
Muitos! No 4 de abril do ano passado nós fomos homenageados e todos os indivíduos da minha ordem, uns desertores e outros fraccionistas pertenceram ao meu grupo. Eu fiz parte do grupo dos 100. O chamado grupo dos 100. E eu fui homenageado. A princípio não quis ir, mas o pessoal disse que eu tinha que ir e eu fui. A minha família também aconselhou que eu tinha que ir. Não foi um acto de generosidade de parte do João Lourenço. Não! Aquilo é mesmo imposição pela história, porque eu estive lá. Eu estive na guerrilha nessa altura em 1974.

CONHECEU NITO ALVES E ZE VAN-DUNEN?
Conheci!

FALE UM POUCO SOBRE ESSAS FIGURAS?
Essas figuras carismáticas não eram figuras que apareciam no dia a dia para lidarem connosco. Não! Apareciam uma vez ou outra. Eram figuras muito raras. E só os indivíduos que estavam ligados ao processo que eles desenvolviam é que conviviam e participavam nas reuniões. Eu representei as Forças de Defesa e Segurança em Malanje e fazia parte da Comissão Directiva e vi muitos desses indivíduos especialmente o Nito Alves aparecer em Malanje. Como Ministro e como militante.


Um individuo muito activo. Naltura o Coordenador da Comissão Directiva era o Loló Quitumba. O meu chefe directo era o General Mona e o General Ivady. Foi um bico de obra. Eles queriam me tirar das Forças Armadas, que era para encaixar na Comissão Directiva, e eu resisti. Não queria sair nada das Forças Armadas que era para permanecer na Comissão Directiva. Mas fui e representei-os muito bem durante longos períodos até ao 27 de Maio de 1977.

COMO CARACTERIZA O 27 DE MAIO?
27 de Maio! (silêncio). O culminar de um acto racista. Perpetrado por indivíduos muito inteligentes. E acho que muito deles pertenceram a PIDE/DGS. Indivíduos que lutavam para derrubar o Governo constituído, Governo muito fragilizado, dirigido por Agostinho Neto para eles assumirem a liderança do país. Há vezes que eu me farto de rir quando vejo uma série de malabaristas, de vendedores de banha-de-cobra a falarem do 27 de Maio, como se fosse um acto simples em que o verdugo fosse o Agostinho Neto.  Não! O verdugo não é o Agostinho Neto, não.  Até ao momento só um individuo me convenceu sobre a verdade do 27 de Maio. É o General António José Maria. É um individuo vertical. É um individuo transparente. É muito correcto. Se porventura os que foram realizar esse acto queriam dar beijinhos e abraços à Agostinho Neto, não havia necessidade de haver movimentação de forças e meios.  É aquilo que se diz na física. Duma acção espera-se uma reação de igual ou Maior intensidade que lhe deu lugar. O 27 de Maio não foi um acto do dia 27 de Maio. Não! Aquilo foi consequência de uma série de actos antes e naquele dia 27.

COMO CARACTERIZA O ACTO DO 27 DE MAIO?
É muito acto. Acções subversivas por parte de grupos.

MAS ISSO TUDO NA GUERRILHA OU DEPOIS DA GUERRILHA?
O 27 de Maio é mesmo o continuar de umas acções maléficas durante a guerrilha. O CIVICOP anda ai a procura de uma série de corpos…
E eu vou pedir aos senhores do CIVICOP para irem à Dolisie para irem desenterrar o corpo do Matias Miguéis. Do Ferro-e-Aço. Irem para o Congo para descobrirem a Deolinda rodrigues. Porque o problema não é só bipolarizar só o MPLA e também a UNITA. Então vamos ter de ir até ao Congo para pedir também responsabilidades à indivíduos da FNLA. Vamos ter de ir buscar os Portugueses que é para virem buscar os corpos que eles atiraram aos jacarés e que eles atiraram ao rio. Vamos ter de ir a Karipande para ir fazer um DNA, estamos aqui nós os familiares de Hogi Ya Henda que é para ver onde ele está e outros indivíduos que morreram.
Uma série de informações que se tem, em que as pessoas mal conhecedoras dos fenómenos que surgiram, querem fazer pronúncias sobre esses factos.

O 27 DE MAIO FOI UMA MANIFESTAÇÃO OU UMA TENDÊNCIA DE GOLPE DE ESTADO?
Tendência para a assunpção do poder. Eu estava em Malanje. Fiz parte das forças Castrenses em Malanje e é curioso que eu sou filho de Agostinho André Mendes de Carvalho.  O meu pai não é o MPLA, nem é o meu tio Pacavira e nem aqueles indivíduos todos que se arrogam dizer que são do MPLA. O MPLA é o meu pai, meu tio Manuel Pedro Pacavira e outros indivíduos que foram buscar o MPLA. Qualquer um individuo que já tenha 70 e tal anos da minha geração, geração de 50, que andou pelo Congo ou pela Zâmbia ou pelas regiões sabe muito bem em que situação e estado é que encontrou o MPLA.

Um estado deplorável. Um estado de muita desorganização. A inexistência do MPLA. O MPLA só tinha o Angola Combatente. A chocalhar a sua existência. Porque de facto o MPLA não tinha estrutura. Estava desestruturado. Esses meus colegas todos do grupo dos 100 que tiveram a oportunidade de primeiro estar no Congo e depois estar na Zâmbia, nós tivemos a possibilidade de constatar os factos reais da 2ª região e os factos reais da 3ª e 4ª região. Não nos vêm vir contar que o MPLA era uma grande organização. Não! Aquilo praticamente não existia.

Nos é que fomos dar corpo ao MPLA. Por isso é que o meu tio Pedro Pacavira e o meu pai arrogavam a dizer nas barbas de quem quer que fosse, que eles é que eram o MPLA.

Nós fomos lá parar quando o meu tio veio da 1ª visita que fez a Zâmbia e no Congo. Ele disse ao meu pai: Oh Mano! O MPLA não existe! Tiveram que fazer um trabalho muito acelerado que foi para organizar forças e mandar para o Congo e na Zâmbia. Porque senão o MPLA nem na fronteira iria conseguir pôr o pé. E depois também houve a insurreição interna. Quem dirigiu a organização interna à favor do MPLA aqui dentro é o meu pai, meu tio Pacavira e outros indivíduos ligados ao MPLA. E também só se ligaram ao MPLA porque o Presidente era o Agostinho Neto, familiar e conterrâneo de muita gente daqui.

A própria extensão do MPLA para a província quem ´é que fez? É o meu pai, meu tio Pacavira e outros indivíduos que fizeram a extensão! De Cabinda ao Cunene! Porque aí onde existiu um individuo quimbundo, porque e havia muitos funcionários públicos por essa Angola afora, começaram a orientar para que começassem a constituir os comités.

Não é nada aquilo que se diz, que o Kiluange veio aqui e organizou. Não organizou nada! É falso. É muito falso. Porque também vamos ter de perguntar onde é que está o corpo do Miro? O primo do Pedalé. Quer para virem explicar, quer para virem dizer em que condições e circunstâncias é que mataram o Miro.
Isso e todo o o problema junto, que as pessoas têm que parar. Ter cotagem para vir expôr para falar verdade. Que é para de facto enveredarmos para uma via de reconciliação. Com essas mentiras todas não vai haver reconciliação.

NA ALTURA DO 27 DE MAIO ENCONTRAVA-SE EM MALANJE? COMO É QUE FOI A RECOLHA DAS PESSOAS QUE PARTICIPARAM NO 27 DE MAIO E QUAL FOI A FINALIDADE DA RECOLHA DESSAS PESSOAS?
Olha, dois anos antes desse macabro dia do 27 de Maio, o MPLA, Agostinho Neto e as Forças Castrenses que defendiam o Estado, já tinham denunciado. As denúncias eram feitas a partir dos Comités de Acção aqui em Luanda. Talvez a gente brinca que Luanda não é Angola? Luanda é mesmo Angola! É aqui onde se decidiu. É aqui onde se decide e será aqui onde se decidirá. Porque feliz ou infelizmente é aqui em Luanda onde a massa cinzenta dos grandes grupos éticos e linguísticos de Angola se concentram. Aqui onde está o desenvolvimento. Não é nada ali atrás onde não há desenvolvimento, onde não há crescimento. O colono ainda fez esforço, foi deixando o desenvolvimento de muita coisa. E infelizmente os camaradas do MPLA, arrogantes só destruíram.


Destruíram tudo! Estamos sem uma economia organizada porque o MPLA destruiu tudo! Uns vieram de Cuba, chegaram aqui para beneficiar os Cubanos, destruíram os canaviais feitos pelos Portugueses. De Catumbela, de Caxito, do Bom Jesus e de outros sítios mais.

As companhias das Índias plantaram por esta Angola toda, do Soyo até Benguela, cajueiros. No tempo que não se andava de avião os paquetes utilizavam a castanha de cajú como especiaria para venderem nos barcos. O MPLA o que é que fez? Destruiu todos os cajueiros Para fazer lenha e carvão.

Quer para não entrarmos no café, porque a responsabilidade pela destruição dos cafeeiros foi a guerra. A maior parte dessas zonas onde se produzia café eram zonas ligadas ao teatro das operações militares e aquilo ficou tudo abandonado. É muita coisa má que foi feita.

PODE DESCREVER O SEU ANTES 27 DE MAIO E O SEU DEPOIS 27 DE MAIO?
No dia em que se desenvolveram as acções em Luanda, eu estava no Uíge. Parti do Sector Malanje, eu acompanhado pelo Comandante do Sector que era o senhor já falecido Vitória da Glória Capita e fomos ao Uíge. Eu para participar numa reunião, um seminário para Comissários Políticos em que o Comissario Político da 1ª região era o camarada Cassefo. Eu não sei como é como ele se chama, mas o nome pelo qual era mais conhecido era Cassefo.


Antes de ir para o Uíge, em Malanje e em função das acções subversivas, o COP Malanje em que estive eu, o Tony Marta, Vitória, o Kamaketo e outros indivíduos , o Comandante Provincial da Polícia era o Victor Santos, o homem da Segurança era o Inocêncio Kene Mbila, e fui assistir.


Vitória ia ter com o Orlog e eu fui para participar num Seminário de e para os Comissários Políticos. Dormi e cheguei um dia antes, dormi na casa de um amigo natural de Malanje, o Samba para que no outro dia fosse á reunião.

O Vitória, o Comandante do Sector também foi alojado noutro sítio pelo Comandante da Região, o Comandante Orlog. De manhã dirijo-me à sala e posto na sala? 9? 9 e meia? 10? 10 e meia? 11? 11 e meia? Eu já tinha informação que em Luanda a situação estava complicada. Estava muito complicada. Não entrei em pânico, mas fiquei com medo. Pois nós que fizemos um comunicado onde manifestávamos nosso desejo como Forças Militares em cerrar fileiras em torno do líder. O líder era o Agostinho Neto. Fiquei preocupado porque também conhecíamos e sabíamos que o Kassefo também não fazia parte do grupo de Agostinho Neto. Fiquei preocupado. Pronto eu aqui vou morrer no Uíge.

9 e meia? 10 e meia? 11 e meia?
Luanda conseguiu fazer o controlo da situação e já não fizemos mais nenhuma reunião. E voltei à noite com o Vitória. Despedimos o Orlog e regressei para Malanje.
Aqui em Malanje a situação estava efervescente.

Depois do 27 de Maio, eu acompanhei o General Canhangulo , o Manuel Katuhala que era o nome do Canhangulo e pediu-me para o acompanhar: sobrinho vamos até Luanda! E vim com o Canhangulo. Entramos no Ministério da Defesa. Quando eu entro pelo Ministério da Defesa, pela porta traseira do Ministério da Defesa, entre a escada e o Gabinete do Dimuka vejo uma série de indivíduos da 9ª brigada amarrados. Sem camisa. Todos! Vi o meu tio, irmão do Loy, o Camacho. Vi o Zeca Ndongo. Zeca Ndongo era um individuo mestiço, cabeludo parecia o Jimy Hendrix e outros indivíduos no chão e eles a olharem para o chão. Eles a olharam para mim e eu a olhar para eles. E acho que aquilo era um teste para ver se você falasse com eles e também te arrolavam na mesma direcção.


Fiquei arrepiado. Só olhei e subi as escadas e vou. E vou no gabinete onde estava montado o Comité. O Comité estava o Ministro da Defesa e o Estado-Maior-General.

QUEM ERAM OS CHEFES NESSA ALTURA AÍ?
O Ministro da Defesa era o Iko Carreira.

QUEM É QUE ESTÁ NA CHEFIA DO ESTADO-MAIOR-GENERAL?
O Estado-Maior-General tornou-se no centro de atenções de Angola. Os Comandantes todos, aqueles que andavam com os Fiat´s verde, as altas patentes que estavam em Luanda, todos foram para o Ministério e se concentraram no Ministério. Uns para irem ver os presos e outros para participarem nas decisões.
Há vezes que a gente quer atribuir culpa ao Ludy, ao Onambwé…

O Ludy e o Onambwé eram muito pequenos para tomarem decisões ali. Poderiam participar, mas para tomar decisões, não! Porque ali era o sítio onde estava o Ministro e o Chefe do Estado-Maior-General.

E todas as forças ligadas à Defesa e Segurança, emergiram do Estado-Maior-General. A partir das Forças Armadas é que se fez a Disa. A partir das Forças Armadas é que se fez a Polícia e outras Instituições. Todo o mundo se concentrou ali.

Lembram-se que quando se prendeu os indivíduos da UNITA? Foram presos no Ministério da Defesa, pois o Ministério da Defesa tornou-se o Centro de decisão. Todo o mundo foi para o Ministério para ir ver UNITAS que estavam presos e assistir as decisões. Quem estava lá era o Chefe do Estado-Maior-General, entidade máxima e o Ministro da Defesa. O Iko Carreira, Ministro da Defesa e o Chefe do Estado-Maior-General, o Comandante Xietu. Estavam lá todos: Toka, Dimuka! Todos esses indivíduos.
Um bando de cobardes. Depois desses anos todos de terem andado com o Neto, hoje com as caudas entre as pernas atribuíram a responsabilidades de tudo ao Agostinho Neto? Canalhas! Bando de cobardes. Eles é que tomaram as decisões e o culpado é o Agostinho Neto?

Porque o Agostinho Neto disse que não haverá perdão. Agostinho Neto não mandou matar ninguém!

De facto, até aquela data 97% dos pretos aqui em Angola eram analfabetos. Não vale a pena a gente vir aqui branquear porque muita gente só chegava até a 4ª classe. Do Zangado, do Marçal não passavam. Os pais já não tinham possibilidades de os levar para os Licéus.

E nas aldeias é preciso a gente ter em linha de conta que em Portugal combatia-se a vadiagem. Em Angola também se combatia a vadiagem. Toda a gente tinha que estar engajado e ligado a qualquer serviço porque a PIDE, a PSP recolhia.

E a maior parte dos negros em Angola nasceram nas fazendas. Nos campos agrícolas. Ao sabor dos ditames dos Cabo-verdianos que eram o capataz e dos brancos que eram os donos dessas fazendas. Não havia muita gente a circular nos centros urbanos. É falso!

Muita dessa gente já nasceu sem liberdade. Porque na fazenda quem mandava era o dono. O dono nem sempre punha lá os pés. Quem é que tinham lá a comandar? Os capatazes! E quem eram os capatazes? Os capatazes eram os Cabo-Verdianos. A maioria dos São Tomenses não gostavam de servir de capataz. Estavam mais ligados às repartições com os cargos que foram estabelecidos. Porque tiveram sempre estatuto privilegiado.

E nós teremos no futuro muitos problemas por causa da maior parte dos Angolanos terem nascido nas fazendas. Naquele período transitório que a gente estava a negociar o Alvor para a Independência de Angola, também culminou com o desencadear da guerra em Angola. E essa gente saiu das fazendas e correu para conseguir segurança nos centros urbanos sem hábitos de viverem dentro das urbes. Foram entrando, foram fazendo os seus ´´cauéleles´´ e até hoje se vão mantendo lá.

Quer dizer, que todo um processo cultural realizado foi por água abaixo porque no meio da fuga, com a condição indigente que encontraram, cada um à sua sorte foi sobrevivendo. E a sobrevivência agravou toda aquela calmia, toda aquela sociabilidade e harmonia que havia em Angola. Não devemos ter vergonha da nossa história

DIZ QUE HÁ VERTICALIDADE DO GENERAL ZÈ MARIA SOBRE O LUÍS DOS PASSOS?
Zê Maria diz que e reafirma que houve de facto uma acção maléfica que se iria dirigir contra o poder constituído e eles reagiram. É provável que na reação se tenha exagerado nas medidas, porque os indivíduos que estavam ligados, cada um aproveitou para se ver livre dos seus adversários e seus inimigos.

Não acredito que seja a DISA que tinham que ir, para ter que se vingarem. Não! Saíram, e cada um com o sentimento que transportavam, foram ´´cumprir as suas missões´´ conforme a gente diz na gíria.

O que é que o Governo deveria fazer? Nós em Malanje já tínhamos feito um comunicado que iriamos cerrar fileiras em torno do Chefe, porque não estávamos de acordo com o comportamento que eles tinham tomado antes do 27 de Maio?

A situação não estava boa. Não! Tendia para uma sublevação armada e com o que aconteceu exageraram na ´´tomada de medidas´´. Houve exagero, houve excesso. O próprio Agostinho Neto ficou preso. Depois o grupo, o dos mulatos apareceram para se verem livres dos pretos. Os pretos assimilados é outro grupo que…

LUÍS DOS PASSOS NUMA ENTREVISTA SOBRE SI, DIZ QUE PARTICIPOU NAS MATANÇAS?
Eu nunca matei ninguém e vou levar o Luís dos Passos ao Tribunal e a tal prima que ele alega, Gostaria que o Luís dos Passos viesse explicar à Angola onde ele diz que eu matei, na terra dele em Malanje? Que o Luís dos Passos viesse explicar quem é que matou os irmãos do Botelho de Vasconcelos, o Ninano? Quem é que matou o Aires Botelho? Quem é que matou Ngola Mbandi? Gostaria que Luís dos Passos viesse para explicar quem foi que matou o Kandumba? O logístico do MPLA antes da Independência, o Domingos Adão? Gostaria que Luís dos Passos viesse para vir explicar quem é que matou o Cajó? Quem é que matou o Bissanzo? Gostaria que viesse explicar quem é que matou o Nelito, o mulato, que era o Chefe das cadeias da DISA?

MAS ESSES MORRERAM NA ALTURA DO FACCIONISMO? NO DIA 27 DE MAIO OU ANTES DO 27 DE MAIO?
Morreram nesse período e depois do 27 de Maio. Em que momento é que eu matei o tio ou primo do Luís dos Passos? Eu quero que o Luís dos Passos apareça em público, porque eu vou levar o Luís dos Passos em Tribunal e vou levar a tal prima, porque os algozes todos andam por aqui por Angola a abanar as caudas.

O Luís dos Passos tem um diferendo político muito grande comigo. Porque eu e o Luís dos Passos fomos nomeados instrutores políticos do CIR Kwenha em Malanje. Eu até hoje tenho comigo a ordem de serviço assinada pelo Comandante Dangereux que eu, o Luís dos Passos e o Marciano de Carvalho como instrutores políticos e o Luta Mão como Director do CIR.

O Luís dos Passos quando chega há Malanje, começou logo a organizar os grupos políticos. Deixava de fazer os trabalhos no Centro e passava o dia em Malanje. Era conhecido como o primo Luisinho.

Subvertido! Devia estar preso. Porque ele é o responsável por todas aquelas mortandades que surgiram em Malanje. Ele é o responsável! Ele é quem induziu em erro esse pessoal. O Luís dos Passos tem de vir explicar quem é que matou o Tilito. O Tilito foi colega da Ana Dias Lourenço. O Tilito foi colega do Luís Quitumba. O Luís dos Passos tem de vir explicar isso!

Durante o tempo que eu estive em Malanje eu não permiti que o Luís dos Passos pegasse nos 2 mil homens que nós tivemos no Centro de Instrução que era para encaminhá-los e levá-los para a intentona. Não lhe dei espaço.


Olha que há um momento muito relevante! Venho de Malanje para Luanda que era para procurar a logística junto do Presidente Agostinho Neto, porque eu sabia como alcançar o Agostinho Neto e nós nem tínhamos comida, não tínhamos fardas. Não tínhamos nada. Ele abriu a pala do envelope, me deu um documento, mas algo me estava a dizer que estava a levar uma bomba. Abri a carta e li, onde ele anunciava ao Filomeno Vieira Lopes, o Filó conforme a gente o tratava.

Porque a maior parte dessa gente toda no bairro do Caputo. E ele diz na carta: Filó! Não conseguimos fazer o trabalho com o Pakas, porque o Pakas não é dos nossos.
Eu tirei cópia daquilo e fui devolver ao Filó. E disse-lhe. Filó! Eu trazia essa carta e algo me estava a dizer que esta carta estava errada e eu abri. Você me perdoa e também já copiei. Está aqui a sua carta. O seu amigo diz que eu não devia participar nessa actividade, porque eu não fazia parte do vosso grupo.
O Filomeno Vieira Lopes está vivo.

E eu nunca lhe dei espaço e não dava espaço ao Luís dos Passos porque o meu pai é o mentor do desenvolvimento do MPLA em Angola. Estava ao corrente de tudo. Nós eramos informados. Nunca conspirei contra ninguém. Eu sou um individuo muito fiel. Sou um individuo muito leal.

Qual era o grupo do Luís dos Passos? O Luís dos Passos arranjou muita intriga e de muita intriga a fazer, que por pouco me ia custando a vida! Valeu o bom senso do Tony Marta. Valeu o bom senso do Comandante Ivady. Quando se aperceberam que ele era um individuo subversivo e muito malandro, mandaram-lhe para o sul de Angola numa coluna militar que foi em direcção ao Bié Comandada pelo Kamaketo. E ali empurraram o Luís dos Passos como quem diz ´´o diabo que-lhe-carregue´´. O Luís dos Passos nunca mais vai ser meu amigo. Ele quando saiu da toca, eu ainda fui vê-lo em casa do irmão dele, o Boaventura Cardoso Apesar das maldades que tinha criado, eu fui lá constatar se a pele dele era igual a do crocodilo, se estava igual a do Jacaré? A pele dele estava a brilhar. Parecia a pele de um gajo que estava a sair agora do ar condicionado.

Eu fui até a casa do irmão dele que estava com ele para lhe desejar as boas vindas.

FALE-NOS UM BOCADO SOBRE O ACTO DA PROCLAMAÇÃO DA INDEPENDENCIA EM MALANJE? A DISTRUIÇÃO DA PONTE DO RIO KWANZA E A CONFECÇÃO DA BANDEIRA DA REPÚBLICA?
A bandeira da República Popular de Angola foi içada em Malanje às 0 horas do dia 11 de Novembro de 1975. E foi costurada por uma senhora em Malanje, que também foi acusada de fraccionista que se chama Aida Macedo. Ele vive e está em Malanje. Aida Macedo mais a irmã dela foram quem costuraram a bandeira da República Popular de Angola içada em Malanje. Foi feita à mão, porque Aida Macedo, fazia parte do MPLA.

O içar da bandeira? A bandeira em Malanje no acto da Independência foi içada por um destacamento da Polícia Militar. A Polícia Militar era comandada pelo Comandante Noite e Dia coadjuvada pelo Judoca, onde nesse acto estavam uns rapazes muito jovens: o Stáline, o Criminal, o Beto e outros indivíduos. Qual quê ele vir dizer que trouxe da frente de combate 100 homens e ele içou a bandeira? É tudo falso! Mentiroso!


Ele é falso! É um bandido! Aida Macedo está viva. Loló Quitumba esta vivo. Todos eles podem vir para testemunhar esse facto.


Acerca da ponte? Diz ter partido a ponte! Isso é falso. Falso! O Disciplina e o Ngutu eram piões. Não decidiam nada. Não faziam parte da direcção. O Comandante era o Ivady. A actividade foi programada para irem em direcção Kwanza. Os cubanos também participaram. As forças eram mistas.

Uns dias antes o Disciplina estava a fazer treinos por causa do Grade P-1 e partimos. Á meio da caminhada fomos surpreendidos pelas forças sul africanas. Havia no ar uma aeronave sul africana que estava no ar para fazer correção de fogo. O inimigo começou a fustigar-nos com uma arma muito perigosa: o canhão 8.8, e é curioso que numa determina altura entra um obus pelo canhão do cubano, estoirou o canhão e arrancou a cabeça do cubano.


O General Cubano ordenou a retirada em debandada das forças dele, passou para o outro lado da margem do rio Kwanza e destruiu a ponte.


O Comandante Ivady e nós todos estávamos do outro lado. Qual Luís dos Passos qual quê? Aldrabão! Bandido! Anda a se vangloriar que era um comando? Esse curso de comando ele fez aonde? Na 2ª região ninguém fez nenhum curso de Comando! Enquanto lá estivemos, íamos fazendo animação militar. Tínhamos como Comandante: Kiamuxinde e Yamucinde, o Terror, o Bandeira. Portanto faziam parte de um grupo de indivíduos que tinham vindo do Sudão. È que o próprio Centro de Instrução de Kalunga tinha muito mais instruendos do que instrutores e não contava com aquela avalanche de instruendos que tinham surgido.

O único grupo organizado era o do Henriques Abranches, que estava a dar topografia à um pelotão, porque o resto, de organização militar não tinha quase nada.
Onde é que Luís dos Passos fez o curso de comando? Onde e quando? Eu acho que desde que ele nasceu não fez nenhum curso de comando nem militar. Porque ao renascer da guerra, á uma dada altura, a gente só tinha pessoal que só sabia disparar e que nem munição para fazer carreira de tiro não existia. É pura mentira. É falso! Há ‘muita gente que está viva. Tem muita gente e até o Ministro do Interior Laborinho, também pode vir depor. Que é para dizer se é mentira ou verdade.

A DISA EM 27 DE MAIO EM MALANJE E NDALATANDO! ONDE ESTEVE?
Em Malanje eu nunca fiz parte da DISA. Eu fui sempre Comissário Político e Comissário Político subalterno. Eu nunca liderei nenhum processo como titular. Nunca! O Chefe da DISA em Malanje era o Inocêncio Nkene Mbila e no Kwanza Norte era o Kipakassa, coadjuvado pelo Sotto e coadjuvado pelo Simão. Nunca fui titular de nada. Não tive relações com o Nito Alves.

JÁ ALGUMA VEZ ESTEVE COM O COMANDANTE NITO ALVES? QUAL ERA A RELAÇÃO QUE TEVE COM A ALA DE NITO ALVES E JOSÉ VAN DUNEN?
O Nito Alves foi muitas vezes à Malanje. Não falo do José Van Dúnem, mas o Nito foi. Era uma constante. Chegou uma dada altura, Malanje pelo nível de organização, que foi sempre o centro escolhido para a realização dos grandes eventos do MPLA.


Porque Malanje tinha capacidade que era para albergar diariamente ao pequeno almoço, almoço e jantar para mais de 2.000 pessoas. Tinha um almoxarifado. Depois das escaramuças contra a UNITA e a FNLA em Malanje, a Comissão Directiva do MPLA em Malanje, recolheu daqueles estabelecimentos comerciais abandonados, recolheu tudo! Loiça, lençóis, colchões. Recolheu tudo e criou um almoxarifado. Uma espécie de aparthotel.


Os eventos eram muitos dirigidos para Malanje. E o Nito Alves também apareceu. Eu era membro da comissão Directiva. O Nito Alves nunca foi para Malanje para reunir com as chefias militares. Não! Ele interligava com a Comissão Directiva.

GENERAL PAKAS” A LUTA DE LIBERTAÇÃO CONTRA O COLONIALISMO PORTUGUÊS COM TENTATIVAS DOS ANGOLANOS A PROCURA DA PAZ. O POVO ANGOLANO DENTRO DA ESCRAVATURA E DEPOIS A INDEPENDÊNCIA E DEPOIS A LUTA ENTRE IRMÃOS? O QUE É QUE NOS PODE FALAR EM 50 ANOS DE INDEPENDÊNCIA E CONTINUAMOS A FALAR DE PAZ? SERÁ QUE O POVO ANGOLANO JÁ ALCANÇOU A VERDADEIRA PAZ?
Pelo menos no contentor não há paz. A colocar ódio no seio da juventude? Os miúdos imberbes do MPLA contra os jovens da UNITA? Aqui não há paz. Nós todos passamos por isso! Quando entramos eramos jovens, primeiro para lutar contra o colonialista português. Depois entramos, entramos nessa macabra guerra FNLA de um lado, UNITA do outro, e por tudo isso o MPLA sempre apareceu como a vítima do processo.


Essa posição vítima tem uma explicação histórica. Mesmo a morte do doutor Jonas Malheiro Savimbi, tem uma explicação. Faz-me lembrar a história de Moçambique. A história do Gungunhana.

Para aqueles que estudaram na escola colonial portuguesa, quando se falava de Moçambique aparecia o Gungunhana, um individuo mestiço com uma barriga grande sem camisa. Foi assim que a malta também começou a diabolizar a imagem do Savimbi. Já aqui em Angola foi colega de muita gente. Em Portugal foi colega de muita gente. Era um indivíduo tecnicamente bem formado, politicamente bem formado acho melhor que o Ndalo é melhor que esses mulatos. Não havia muitos pretos na universidade.

Mas felizmente esses problemas pelo menos apareceram porque era filho de um indivíduo assimilado, o velho Malheiro e que projectou o seu filho, esse pelo menos esteve na guerrilha foi membro do MPLA.

O quê que lhes assustou no MPLA? Quando chegou deparou-se com aqueles mulatos da PIDE, com aqueles indivíduos que vinham com aquela experiência macabra e preferiu ir embora. Ele foi se embora e foi assassinado por racismo.

QUEM, O SAVIMBI? FOI ASSASSINADO POR RACISMO? COMO ASSASSINADO? NÃO FOI EM COMBATE?
Não! É falso.

A UNITA DIZ QUE ELE MORREU EM COMBATE!
É uma história muito mal contada. Há muita coisa que precisa ser bem contada. E garanto que vai ser muito difícil, os negros entenderem, se os experts que conhecem a história se não acelerarem na corrida, que é para estancarem.


O racismo vai devorar Angola, porque afinal de contas os racistas só são os pretos. Quando a gente vai para Portugal, andam ai os Andrés Venturas e muito mais. Os outros lá fustigam contra os pretos e não só. Fustigam também contra os ciganos. Vão também para o Algarve e o Alentejo e fustigam contra aquela miscelânea do povo que estão no Alentejo.

Os mulatos também tiveram um período bastante difícil aqui em Angola. Difícil porque as ´´mulas´´, que eram as mães delas pariam esses mulatos. Esses mulatos ficavam na sanzala a lamentar. Os tais pais também não podiam registar porque a lei colonial não permitia, porque muitos só esperaram a Independência de Angola para procurar o nome do pai e também colocavam o nome do pai à revelia. Eles também fizeram a revolução deles, dos mestiços contra os pais ou a raça dos pais, e chegou uma dada altura foram arregimentando a maioria dos pretos.


A fome em Angola tem cor e está desproporcionalizada.

Se tivermos em conta a regra de proporcionalidade, meia dúzia de mestiços são os detentores de boa parte de toda a fortuna de Angola. E muitos deles andaram connosco durante esse tempo de guerra e já não vivem aqui. Já estão em Portugal. Instalaram-se em Portugal. Compraram casas, fizerem ´´patriamento´´ de capitais em Portugal, na Europa e noutros pontos fora de Angola.

E foram acompanhados de seus sequazes, os assimilados. Hoje vivem em Portugal.

Então andamos aqui durante esse tempo? O país precisa!

Há uma pergunta que costumo a fazer. Porquê que os pretos é que são os pobres em Angola? Para quem sabe fazer aritmética, se for fazer um exercício de aritmética, se for fazer um exercício de aritmética ou de matemática para ver as proporcionalidades, vamos chegar a conclusão de que a situação não está boa.


E quem é que disse que esses mulatos todos que também não tinham pai, que só tinham mãe, acolhidos pelas igrejas foram melhores que nós?

Nós que andamos a estudar aqui em Luanda, no Lubango? O que é que se passou para a riqueza ficar concentrada com esses mulatos, Cabo-verdianos, São Tomenses?

E mais! E tiveram mais visibilidade porque apareceram aqui em Angola como forças auxiliares de implementação do colonialismo.

O nosso inimigo até 1974 era o branco. Bastava olhar para um branco, a gente afastava-se logo. Hoje ficou um bocadito mais complicado. Porque essa gente está sempre a manipular o poder e a manipular os pretos.

Veja lá um individuo que nasceu numa fazenda, cresceu na Fazenda? Habituado a ver o colono, o representante do colono? Sem urbanidade porque nunca viveram nos centros urbanos. Tornaram-se peças fáceis para serem manietados. Isso tem explicação. A maior parte desses indivíduos no tempo do colono nem aceitavam ser Angolanos. Porque eram Cabo-verdianos, é isso é daquilo. E agora já são Angolanos?


Pois! Tudo com a cumplicidade do Iko Carreira e a sua camarilha de mestiços. Iko Carreira parte para o Kwanza Sul e mobiliza os mulatos do Kwanza sul. São esses que vêm e ficam nas direções do Ministério e do Estado-Maior-General. A Maioria! Tomaram o poder!


Desde é que aqui em Angola, o General João de Matos, poderia ser Chefe do Estado-Maior-General? É meu amigo. Gostava muito dele. Mas ele não teve requisitos para ser chefe do Estado-Maior-General.

Havia uma série de alferes, uma série de cabos milicianos na era colonial. Pretos Angolanos. Cabindas, Mussorongos do Zaire, gente do Lubango, do Huambo? Você vai buscar um indivíduo de 4ª classe quando temos outros com o 7º ano?


Quer dizer que o colocaram porque ele era um génio? Não vimos em nada que demonstrasse esse facto. De ser um génio? Eram já os tais alinhamentos na corrupção para o desvio político e ideológico. E mudamos de rumo.

Tanta gente com formação, melhores que o Furtado, que também é cabo-verdiano. Então vocês estão a ver que os Angolanos só têm matumbos? Entre os Angolanos só têm matumbos? Nós somos matumbos? Quando essa gente apareceu aqui em Angola nós já andávamos na escola. Como é que você se rodeia, você e a mais alta entidade do país? Você não está a ver os Angolanos?

Quer dizer que do ponto de vista político e ideológico há um desvio de linha.

QUAL É A SUA OPINIÃO SOBRE O PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO E DE RECONCILIAÇÃO NACIONAL DO PRESIDENDE DA REPÚBLICA?
Eu acho que João Lourenço transformou-se num malabarista. Um vendedor de banha-de-cobra. Vendedor de banha-de-cobra. Eis a razão que eu digo que o General Zê Maria é vertical. Ele é firme. Não quer viver de benesses. Ele enveredou pela verdade. Digam o que tiverem a dizer. Porque há traição. As pessoas hoje estão a vender factos a troco de dinheiro.


O João Lourenço perante esse processo do 27 de Maio não estava aqui em Luanda. João Lourenço estava em Cabinda. O que é que ele sabia desse processo em Cabinda?

Cabinda não foi nada dos Centros de maior subversão. Não foi em Cabinda onde se provocaram as grandes mortes.

As grandes mortes foram provocadas na comunidade Kimbundu. Bengo, Malanje, Kwanza Norte! E eu pergunto? Matar os quimbundos porquê? Porque é que mataram os kimbundus?

O colono branco não gostava dos quimbundos. E agora os colonos pretos entraram e não gostam dos quimbundos. Qual é a causa? É a nossa clarividência? A nossa honestidade? A nossa defesa de princípios?


Há uma série de indivíduos aqui em Angola. Quando se fala que morreram 200 mil pessoas, também não acredito. É falso! Mas aqui morreu muita gente.

Já conversaram com os familiares desses indivíduos que estiveram nas masmorras? Já conversaram com as famílias desses indivíduos que morreram? Já conversaram com os indivíduos que estiveram nas masmorras no Moxico, no São Nicolau? Aqui em Luanda? Já conversaram com essa gente? Já conversaram com os familiares, com os filhos desses indivíduos que foram assassinados?

Eu tenho um sobrinho, estava para trazê-lo hoje aqui, que é filho do meu primo, Mário Jorge, irmão do General Biby. Mário Jorge de Carvalho. Foi assassinado e na presença do tio avô. Já chamaram os algozes, os verdugos que é para virem depor? Que é para falarem sobre o 27 de Maio?

Então o João Lourenço é que é o todo-poderoso, o senhor que nem conhece esse processo, ele é que está a fazer perguntas? Ele é que está a tentar fazer artefactos que é para iludir e enganar o povo.

João Lourenço está a procura de medalhas. Está a procura de uma taça. É um malabarista. É um vendedor de banha-de-cobra.

MENSAGEM AOS INDIVÍDUOS LIGADOS DIRECTAMENTE AO 27 DE MAIO.
Quais? São muitos os indivíduos ligados ao 27 de Maio. Eu acho que a gente tem de criar uma comissão de verdade. Comissão de verdade! É preciso ouvir toda a gente. E os assassinos que também estão aí?

O problema do 27 de Maio não se resume nos que morreram. Há muita gente que viveu. Já falaram com essa gente? Como é que vão reparar os danos que provocaram nesses indivíduos que estiveram presos e saíram? Como é que vão reparar os danos às esposas e filhos dessa gente? Como é que essa gente será integrada na sociedade?

O João Lourenço é o quê?

Um processo tão macabro, tao complexo como este? Não acha que a gente tem de criar uma comissão multidisciplinar que é para a gente ver isso? Onde haja imparcialidade. É com os amigos dele, que ele está a meter na CIVICOP? E muitos naquela altura não tinham expressão e nem conhecem isso. Estão a fazer leituras. Estão a se posicionar livresca mente sobre um processo complicado.

Vêm aqui em Icolo e Bengo! Vamos à Malanje que é para ver os danos que o 27 de Maio provocou.

Não é só porque o Luís dos Passos está aqui! Não! Há muita coisa para ser reparada aqui em Angola. Não é o João Lourenço! É um vendedor de banha-de-cobra.

MENSAGEM PARA AS VÍTIMAS DO 27 DE MAIO E VIÚVAS?
A mensagem é que não devem aceitar tão somente a guia. Meu sobrinho está aí. Esse filho de meu primo, o Marito. O Mário Jorge. Não conseguem fazer o enquadramento do miúdo. Deram-lhe a guia que foi morto o pai e agora o miúdo precisa de tratar a documentação- Vejam lá uma situação tão caricata. Matam o meu primo Marito. A senhora estava grávida desse meu primo. Esse miúdo está com 46 anos de idade e depois de ela parir , aquilo foi só: pariu, agarraram na Mãe e mataram a Mãe. O miúdo não tem nem Pai e nem Mãe.

Ele agora quer tratar do bilhete de identidade. Como é que fica isso? A CIVICOP como é que vai resolver isso? Irmã do Kiluanje! Marido foi executado e logo de seguida executaram a senhora. A senhora depois de parir, mal pariu, pegaram no bebé e mataram a senhora.

Métodos nazistas! Terroristas! Bandidos! Está aí o miúdo. O miúdo está aqui. Quer tratar do bilhete de identidade e não sabe como tratar o bilhete de identidade.

Oxalá que a CIVICOP venha trazer essas soluções. Como é que vamos recuperar as frustrações? Os traumas dessa gente toda?

Olha que eu também não fui assassinado por ser filho de quem sou?

Pois, porque houve muita vingança nessa altura. Eles estão aí. Você acha que aqui vai haver paz? Acham que com essa gente vai haver paz? Vai haver reconciliação?
Se eles estão a se esconder. Estão a tentar apagar com a história. E andam a nos perseguir, a pensar que nós somos fáceis também de levar. Eu estou nesse processo desde a minha tenra idade. Fui vítima do colono branco. Agora estou a ser vítima do colono preto.

Daqui para frente, vitória ou morte. Não vamos nada aceitar sevicias destes malfeitores.

Qual CIVICOP, qual quê? Façam uma Comissão. Vão à África do sul que é para colher a experiência da África do Sul.

Eu tenho 71 anos de idade. Eu estava vivo. Não tenho qualquer responsabilidade com nenhum assassinato que foi feito. Não! Façam uma comissão isenta, transparente e com gente honesta. Chamem a sociedade civil que é pata participar. Não é com decreto do camarada João Lourenço. Está mal! Quer dizer, que ele quer perpetuar a situação.

Aqui ninguém vai matar ninguém, porque vão ´´tomar medidas activas´´. Nós nos conhecemos todos. E feliz ou infelizmente, maior parte desses algozes moram misturados connosco nos musseques.

Porque deviam ter pelo menos o cuidado de fazerem um bairro que é para meterem esses verdugos. Não! Eles vivem em bairros onde a gente vive.
Não estamos satisfeitos. Nós somos Angolanos.

EM QUE CONDIÇÕES VISITOU PRESOS DO 27 DE MAIO E AS LOCALIDADES E O ESTADO EM QUE SE ENCONTRAVAM?
No 27 de Maio em Malanje os meninos ficaram aprisionados no almoxarifado no 2º andar em Malanje. O único individuo, penso, que ia visitá-los todos os dias à noite, era eu. Estão vivos. Chama-os que é para vir confirmar.

Eu ia com regularidade visitá-los. E não sabia que estava a correr riscos. Eu estava também para ser executado em Malanje. Há presos que sabem e confirmam isso. É provável, porque o meu pai era uma alta individualidade, e ficaram com medo.

Há tempos estive com uns indivíduos que foram carrascos no 27 de Maio, um que está a me dizer que o meu pai é que foi o responsável! Ah? Meu pai nunca foi o Presidente da República! Meu pai nunca foi Primeiro Ministro! O meu pai naquela altura não era ministro de nada. O meu pai não foi chefe das cadeias. Nem da DISA.

Como é que o meu pai era o responsável?

Meu pai andava numa organização política. Essa organização política é que começou a ver a forma como se manifestavam nos bairros por intermédio dos grupos de acção e foi denunciando que ria haver golpe.

Agora aqui, quem tomou a decisão é que é o responsável. Então o meu pai é que é o responsável? E esses que foram assassinar em consciência é que são boas pessoas?

Como é que fica?

Estive uma vez com o Comissário Kúdia que foi comissário da 1ª região no tempo do camarada Comandante kugigila. Estamos a almoçar em minha casa e o Kúdia aparece e na mesa começa a dizer que o meu pai é o responsável.

Meu pai nunca foi ministro, não foi chefe da DISA, não foi chefe das cadeias.

Não acha que o Kúdia naltura que foi pedir emprego, não deveria aceitar esse emprego porque esse emprego estava cheio de sangue dos camaradas, dos colegas dele?
Não seria bom que esse Luís dos Passos quando lhe foram buscar, recebeu dinheiro e casa da segurança do estado. Não é o dono do Balumuka? Então um gajo que fica

´´preso´´, o dinheiro sai aonde? Onde é que saiu o dinheiro? Estão ligados aos serviços de inteligência. São bufos. Malfeitores!

Não seria bom que o Loló Quitumba e seus irmãos ao invés de virem assumir os cargos que lhes foram dados no tempo do José Eduardo, que também estava ligado ao fraccionismo, recusarem e exigirem transparência, legalidade, mas aceitaram os cargos?

O Adriano Botelho de Vasconcelos, o Ninano, o Kimbemba perdeu o irmão. Vai receber cargos de quê? Não sabem que esses cargos têm sangue? Não estão preocupados? Honestos como? Os outros é que são os malfeitores e eles são os vilões? Estão a receber essas benesses? Vilões!

GENERAL PAKAS? ASSISTIU À FUZILAMENTOS OU PARTICIPOU NO 27 DE MAIO?
Eu não assisti, mas vi muita gente a ir. Quando eu vou para o Kwanza Norte, no dia que eu cheguei a N’Dalatando, hospedei-me na casa da segurança do estado. Da DISA. Nessa noite, há um individuo que sai da 1ª região que vai para Malanje e eu saio com esse em direcção ao Kwanza Norte à noite. Depois da gente jantar mataram muita gente.

Prenderam e mataram todos aqueles indivíduos que estavam lá. Domingo à noite. Onde é que anda esse individuo que era subordinado do Saturnino? Foi propositadamente para Malanje, de Malanje fomos para o kwanza Norte, eu para assumir as responsabilidades de Comissario Político. Está onde ele? Estão aonde aqueles indivíduos que eu á noite a dormir na sala entraram numa briga, ele e mais os outros indivíduos e mataram? Aonde é que eles estão?

Quem quer falar do 27 de Maio nas províncias onde foram assassinados os indivíduos, o Comité era constituído pelo Comandante da Polícia, constituído pelo Comandante das Forças Armadas, pelo homem do Sinfo e outras entidades. Esses é que têm de responder!

É uma questão de irem para lá, que é para perguntarem quem é o Comandante? Quem é o chefe do Sinfo, quem eram estes e aqueles? Então esses é que se tinham constituído no comité.

Não vale a pena andar a procura ou à caça às bruxas, porque são esses indivíduos.

Orientação a nível nacional? Era o Estado-Maior-General! Se é para perguntar quem era o Ministro ? Quem era o Estado-Maior-General? Quem eram os indivíduos que faziam parte do elenco?

Estamos aqui na caça as bruxas como a procura de uma agulha no palheiro? Estamos a fugir no cerne da questão que é para arranjar os bodes expiatórios para vir justificar os assassinatos. Está mal! Quem não deve não teme. E vamos lá. Quem não deve, não teme.

Deixemos de atacar o Presidente Agostinho Neto. O Agostinho Neto num momento logo após o dia 27/28 apareceu sentado numa cadeira onde ele baloiçava, muito triste. Porque o gabinete do Agostinho Neto foi invadido pelo Iko Carreira e por mais uma pessoa que eu não quero falar quem é. E foram ameaçar o Agostinho Neto. Com as pistolas fora do coldre.

O Agostinho Neto manifestou-se junto do meu pai: Agostinho! Já viste? Ninguém me respeita! O Iko mais um individuo (que eu não cito o nome) entraram para o meu gabinete com as pistolas fora do coldre. Vieram me ameaçar.

Iko Carreira nunca foi boa pessoa. Iko carreira nunca foi boa pessoa. Esses mestiços nunca foram boas pessoas.

A maior parte desses indivíduos fizeram parte da FUA e de outras organizações terroristas ligadas à Pide/DGS e entraram no MPLA. É muito agente da PIDE.
Tenham coragem! Mesmo os pretos que eram Comandantes naquela altura, tenham a coragem de vir dar a cara e não deixarem crucificar o Presidente Agostinho Neto.
Ele não deixa de ter responsabilidades porque era o chefe. Infelizmente os chefes são sempre castigados.

Chamem esses cobardes! Que venham! Os racistas? Os tribalistas? Os indivíduos que vieram de outras nacionalidades? Os cabo-verdianos? Os São Tomenses também estiveram embrulhados nisso. Vêm vir dar a cara!

O QUE É QUE SABE DO CAMPO DA KALUNDA NO MOXICO?
A maior parte dos que lá foram são do kwanza sul e são quimbundos. Em Catete têm tantos. A maior parte são quimbundos. Quem é que estava a barrar na guerrilha a apetência dos mestiços que queriam tomar conta da situação? Os quimbundos? Os Quimbundos do MPLA. Os quimbundos! Nós nos constituímos na força principal do MPLA. Meu tio Kimakienda, Hogi Ya Henda. Todos eles eram quimbundos.

Só que o Chipenda numa determinada altura começou a desenvolver as suas acções tribalistas com os problemas com os ovimbundos.

E eu pergunto? A Deolinda morreu como? Quem é que lhe matou? Mestiço! Toda a gente sabe. Quem é que matou o Matias Miguéis? Porque que não mataram o Viriato da Cruz? Porque que o Dilolwa se suicidou?

Porquê que tanta gente não quer pactuar com esse índice de malícia? Angola não vai para lado nenhum. O problema é racial. É real o problema. Os pretos não vão conseguir sair dessa situação.

Pela ocasião da Independência, 98% dos pretos eram analfabetos e levam muito tempo para reagir. É preciso tempo.

E há mais uma marosca ainda ligada ao 27 de Maio: é a educação dos pioneiros. Deram um golpe palaciano e está a surtir efeitos. Apos a primeira conferência da juventude da qual também fiz aparte, o individuo que foi indicado por Agostinho Neto que era para dirigir a OPA, chama-se Augusto Renato Tito. Um mais velho que foi meu mestre quando eu estudava no Lubango. Apos a morte de Agostinho Neto. O MPLA teve muitas dificuldades em dirigir a JMPLA. Há uma série de quadros da JMPLA que foram linchados porque estudavam e já tinham uma visão muito boa, política e ideológica.

Foram mortos. Foram assassinados muitos membros da JMPLA. Apos a 1ª conferência, Agostinho Neto pede que Augusto Renato Tito fosse o primeiro secretário da OPA, uma pessoa mais velha, de uma perspetiva de longo e médio prazo, que era para encaminhar os destinos dos pioneiros na criação de uma nova juventude para se fazer a nova nação. Porque a maior parte dos indivíduos que lá estavam eram partisans. Outros que fugiram da sentinela e porem lá postos duma forma abrupta, a maior parte não tinha nada formação política nem ideológica, pois o inimigo deles eram os brancos, eram os mulatos.

Ideologia? A maioria não tinha e quando chega a morte de Agostinho Neto, o velho Lara mudou o 1º secretário Augusto Renato Tito, alegando que o Tito era muito velho para tratar da juventude. E meteu lá um outro individuo. Um lacaio.

Como é que está a juventude hoje aqui em Angola? Um terreno fértil para a contra revolução.

Essa juventude não mora aqui em Angola? Esses indivíduos não estão alinhados com Angola? É essa gente que está a fugir, e está a ir para Portugal. Falta-lhes patriotismo. Há golpes que se dão para médio e longo prazo. Por isso as organizações políticas aqui em Angola não importa a natureza dessas organizações políticas terão de trabalhar muito seriamente na mudança da mentalidade da juventude.

Que esses miúdos todos, pioneiros de Agostinho Neto na construção do socialismo, tudo pelo povo. Esses não vão! Vão embora todos aqueles que não estão ligados com a pátria. E é um acto premeditado. Só os inteligentes sabem como eu, porque eu sou branco. Sabe porque que eu sou um branco? Porque eu tenho conhecimento!

MAS O PRETO NÃO TEM CONHECIMENTO?
Não! O senhor não é preto! Eu vou lhe contar que o senhor não é preto. Preto é isso aqui. Encostas aqui a sua mão. Vê? O senhor é preto? O senhor é pardo. Preto é um conceito para o burro. Não importa a origem do individuo. É burro. Não tem conhecimento, é preto. Branco é um conceito para todos os indivíduos que independentemente da cor, têm conhecimento. Está aqui o preto. O senhor não é preto.

No conflito de culturas como os brancos não conseguiram buscar respostas imediatas, chega uma dada altura sem saturação, dizem ´´esses gajos são mesmo pretos´´. Porque você quando é clarividente as pessoas dizem: ele tem massa cinzenta.

VAMOS CONTINUAR A FALAR SOBRE KALUNDA?
Quase todos regressara e chegaram aqui. Mesmo ao lado de minha casa moram ai e tem ali tantos. Morreram lá muitos. Mas aqueles cujas famílias tiveram a visibilidade de la irem buscar, foram buscados pelos seus familiares. Estão aí.

QUEM OS MANDOU LÁ?
Olha quando eu conversava com o Comandante Onambwé, o Henrique de Carvalho Santos é meu amigo. Eu era também muito amigo do Comandante Ludy e o Onambwé uma vez para a viatura e veio ter comigo e diz-me: Oh Pakas! Esses gajos dizem que eu sou assassino. Esses gajos deviam ir perguntar ao Dino Matross, que é para o Dino Matross vir dizer quem foi que mandou os miúdos para irem ao Moxico. Indirectamente me estava a dizer que um dos responsáveis no encaminhamento dos miúdos no Moxico foi o Dino Matross.

Esses mais velhos todos estão escondidos. Toka! Todos! Saem da toca, cobardes! Andam só a ganhar à toa e a infernar o país. O nosso país corre o risco de desaparecer como país, porque os mamadús vão tomar conta do país. E esses cobardes andam ai com fortunas, mais fortunas. tempo não é mais como aquele que quando vieram aqui ameaçar que tomavam ´´medidas activas´´?

Nós não temos muito tempo que é para lhes ouvir. E hoje já temos muitos filhos que é para lhes retribuir na ´´tomada de medidas´´.

Não! É preciso parar com isso de ´´medidas activas´´. Nós temos é de tomar ´´medidas activas´´ na escola. Ter a capacidade de meter os nossos filhos na escola e virem com muita clarividência, que é para a gente reconstruir o país. Porque esses anos todos que os senhores andaram a governar, tudo porque estão com manias! Macacos do Maiombe porque têm de ir viver em Portugal.

Não é aqui onde a gente tem de viver? Estão a ir a Portugal fazer o quê? Têm de viver aqui.

Chamem lá toda essa gente. Esses cobardes. Têm informação os que lá andaram no Ministério da Defesa, os que estavam de braçal. Cobardes! Venham depor. Vamos constituir a comissão da verdade. A verdade liberta.

A verdade é contada pelos sobreviventes. A verdade deve ser contada pelos sobreviventes. A verdade deve ser contada pelos algozes. Então estamos só a ouvir a versão do grupo do João Lourenço? Quem é o João Lourenço?

E fica um apelo aqui! Eu quando falo, falo! Eu quando falo, falo para o João Lourenço porque eu sou um General. Eu sou um soberano. Não andei a apanhar boleia e nem fui na sede do partido para ir comprar nada. Não há ninguém nesse MPLA aí, que tem idade que é para ser o meu pai. Não há ninguém! O meu pai fará 100 anos este ano.

Não tem lá ninguém. O meu professor foi o meu pai. O meu líder espiritual foi o Agostinho Neto. Aquilo que a gente costuma dizer, quem luta contra nós não passará por Catete. Nós não temos culpa. No tempo do colono nós dêmos as caras. Nós não ficamos a espera das turmas alegóricas dos mulatos, dos cabo-verdianos e nem tão pouco dos São Tomenses.

Um país que em todos os Sectores da vida nacional com Cabo-Verdianos, São Tomenses? Os indivíduos que a gente os via descalços, as mães com umas saias bem rodadas bem grandes e piores que as ciganas! Andamos na mesma escola. Alguns! Porque nem todos foram!

Não nos dão valor porquê? Se nós somos os donos da terra? E é assim que depois dizem que o João Lourenço não é Angolano: é baluba por esse seu mau comportamento.

Está a sair de Angola, para ir dar uma grande farra? Não é baile. É farra! Quando o povo está a comer nos contentores, está a sair de Angola, está a levar três aviões, está a levar carros de Angola para ir desfilar?

Ele tem de vir estudar a história de Angola, que é o que a gente faz. Não é a história da Rússia! Já estudamos a história de Dom Afonso Henriques, do António Racar e outros mais.

Acabou! Tem de interagir connosco: Balubas, Bacongos, Nhanecas. Nós não somos nada o mesmo povo. Nós somos muitos povos dentro de um território. E é preciso interagir connosco que é para gente dizer quem somos do ponto de vista cultural e o que a gente quer. E que fique claro.

Aqui já não tem pretos que são moldados, que são moldados por outros pretos, que é para a gente ver. Não! Eu sou um aristocrata. Nos balubas eu sou um aristocrata. E aqui também nos quimbundos eu também sou um aristocrata. Nós somos netos de cafuxus. Não estamos a vir nem de Cabo-verde ou de São Tomé.

Parem com isso! Porque amanhã não poderá haver outra alternativa. A semelhança do que aconteceu no tempo do colono branco, nós vamos ter que lutar contra o colonialismo actualmente.

E depois dizem que a UNITA… UNITA. Qual UNITA?

Há dias fiz uma fotografia com Adalberto e estão a me vir dizer que eu não devia fazer mais!

Que é aquilo? Aqui em Angola quem é que tem autoridade moral para me vir dizer para que eu não faça fotografias com este ou com aquele? O irmão do Adalberto andou connosco nas Forças Armadas. O irmão do Adalberto é o Lanucha. O General Lanucha. Então aí vocês que estão a vir, emergiram agora vindos das fazendas! Vocês que já nos encontraram, já nos viram nas cidades é que vêm nos dizer com quem é que devemos andar?

Vocês que só ficavam nos riachos a caçar peixes, a tirar visgo, é aqui na cidade onde os senhores vêm aqui nos dar aulas? Isso está mal!

QUER FALAR MAIS ALGUMA COISA?
Sim! Quem matou a isaura do Lubango? Nós não somos matumbos.

Métodos nazistas! Uma rapariga muito bonita do Lubango. Uma muito bonita. Chamada Isaura. Era directora da Taag do Lubango. Animais muitos sujos quiseram se aproveitar da rapariga e ela não dava possibilidades. Quando chegou o 27 de Maio mataram a isaura. Tanto ódio, porquê?

E me desculpem meus caros camaradas evocar os vossos nomes.

Eu se tivesse na vossa condição. eu Quitumba que perdi o meu irmão Galiano, que perdi o meu irmão João Manuel da Silva, a Nanda, que perdi o Luís, em condição nenhuma eu iria aceitar nenhum cargo. Porque o vosso pai instrui-vos muito bem. Mesmo sem o MPLA cada um de vocês tinha condição que era para poder andar. Porque na era colonial já tinham rompido a ´´barreira do som´´. Já eram gente. Já eram pessoas.

Você Botelho de Vasconcelos, Ninano, cujos irmãos morreram, o Aires Botelho, o Ngola Mbandi, eu não aceitaria nunca nenhum cargo. Iria lutar pela reposição da legalidade.

Eu quero que os senhores todos encaminham uma petição junto do Tribunal Internacional que é para os acusados, os algozes, que é para cada um ir apresentar a sua justificação e não usarem os métodos que estão a usar de vir nos sujar nas redes sociais.

Porque é um tiro que vocês estão a dar mesmo nos vossos pés. Porque não vão conseguir justificar em Tribunal. Vocês não conseguirão justificar nada, porque provavelmente os algozes, os verdugos estão vivos. Esses vão responder e lá vão dizer que o General Pakas não estava lá.

TERMINA AQUI A NOSSA LONGA ENTREVISTA COM O GENERAL PAKAS.

MUITO OBRIGADO.
Bem haja.

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